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Filme | É Apenas o Fim do Mundo

É Apenas o Fim do Mundo (Juste la Fin du Monde, 2016) / Direção: Xavier Dolan / Roteiro: Xavier Dolan; Jean-Luc Lagarce / Elenco: Natalie Baye; Gaspard Ulliel, Léa Seydoux; Marion Cotillard; Vincent Cassel. 

É apenas o Fim do Mundo

“Na vida há um número de motivações, que não dependem de ninguém, que o forçam a ir embora sem olhar para trás. E há o mesmo número de motivações que o obrigam a voltar.”

É com essa reflexão do personagem principal, Louis (Gaspard Ulliel), que o filme começa. Ele é um escritor que já vivia há 12 anos longe de casa e o mesmo tempo sem sequer visitar a sua família. Porém, decide retornar ao descobrir que tem pouco tempo de vida e assim pretende “dar a si mesmo e aos outros uma chance de se despedir”.

O filme irá se passar em um dia de domingo, quando Louis finalmente retorna e se reencontra com a mãe Martine (Natalie Baye), o irmão mais velho Antoine (Vincent Cassel), a irmã mais nova Suzanne (Léa Seydoux) e a esposa de seu irmão, Catherine (Marion Cotillard).

“Eles têm coisas a dizer, é claro. Eles não sabem quando terão outra chance.” 

Com tantos diálogos particulares e coletivos, fica cada vez mais difícil para Louis cumprir o objetivo de sua visita, o que cria um suspense na trama e você começa a se perguntar em que momento e como vai acontecer a tão importante revelação.

É apenas o Fim do Mundo

Catherine, a cunhada de Louis, é a personagem mais interessante do ambiente. Ela nem conhecia Louis pessoalmente, sendo que ele não esteve presente no casamento do irmão — algo que pode justificar a presença de alguém que não havia sido tão afetado pela ausência de Louis e, consequentemente, teve menos tempo para resolver contas do passado e notar que tinha algo acontecendo com o escritor, não que não pareça que a família também percebe algo, mas com Catherine a coisa toda é muito mais explícita. Essa compreensão é vista logo nos primeiros 13 minutos de filme com uma troca de olhares muito reveladora.

Já Antoine, o irmão mais velho, nos deixa um pouco confusos com a sua personalidade um tanto quanto instável, ele explode do nada em alguns momentos e depois se contém. Isso nos revela um pouco de ciúmes do irmão, mas, mais do que isso, uma certa mágoa por ele achar que o irmão não se importa com ele ou com o que faz, e claro, pelos 12 anos desperdiçados da qual Louis se arrepende.

É apenas o Fim do Mundo

Suzanne, a irmã mais nova e “maloqueira”, nutre uma forte admiração pelo irmão com quem teve muito pouco tempo de conviver e desenvolver uma relação de contato assíduo como desejava ter tido.

É apenas o Fim do Mundo

Ao passo que Martine, a extrovertida matriarca, apesar de sentir a falta de Louis e também ter alguns de seus motivos para “reclamar” com o filho. Ela simplesmente quer aproveitar aquele momento com a família — em paz, se possível.

É apenas o Fim do Mundo

Dirigido e roteirizado pelo canadense Xavier Dolan de Eu Matei a Minha Mãe (2009) e Mommy (2014), o filme foi baseado na peça de Jean-Luc Lagarce. Xavier possui um dom artístico do qual eu admiro muito, pois, como o próprio diz, ele mistura os elementos que mais ama para compor seus filmes. E, essa união de: arte, música, poesia etc fica muito bela visualmente.

Uma das minhas cenas preferidas, por exemplo, da qual Louis relembra dos dias de domingo com os pais e o irmão mais velho, revelam todo o cuidado de Dolan ao focar na poeira que ficou no vidro do carro quando o pai de Louis tira a capa dele. São detalhes muito pequenos, mas que destacam um certo estilo do diretor que pode ser considerado como “alternativo, independente etc”.

Gaspard Ulliel, de Hannibal (2007) transmite muito bem os sentimentos de Louis, ressaltando que, vamos vê-lo com mais base nas interpretações das suas expressões do que falando.

Enfim, “É Apenas o Fim do Mundo” é um filme muito poético, principalmente para quem ama drama — como eu — e para se pensar em muitas coisas: no tempo perdido, em como estamos desenvolvendo nossas relações familiares, nossas prioridades, nossos sonhos, a complexidade do ser humano e, claro, por quê não o clichê do “o que faríamos se soubéssemos que vamos morrer?”.

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Sobre o Autor

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Publicitário, estudante de jornalismo e aspirante a artista. Ama passar o dia com o fone de ouvido, ir ao cinema e andar pela Doca de Souza Franco como se não houvesse amanhã. É Marvete e DCnauta pois, aproveita de tudo.

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