THE POST: A GUERRA SECRETA (The Post, 2017. Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Liz Hannah e Josh Singer. Elenco: Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Bruce Greenwood, Matthew Rhys.)

Histórias sobre trabalhos investigativos, sobre a construção de matérias e reportagens históricas, que moldaram o jornalismo e a sociedade para sempre, têm sido trazidas à tona cada vez mais, com a revelação dos bastidores desses trabalhos.

O cinema se aproveita dessa crescente e investe muito nessas produções. Spotlight, a última, foi premiada com o Oscar de melhor filme e melhor roteiro original.

Na mesma linha, The Post: A Guerra Secreta chega para revelar mais um trabalho jornalístico que trouxe histórias chocantes à tona.

Dessa vez, a temática jornalística tem o comando do nome mais popular entre os diretores de cinema de Hollywood: Steven Spielberg. Com o roteiro assinado por Liz Hannah e Josh Singer – Singer, inclusive, escreveu o roteiro de Spotlight, acima citado, e venceu o Oscar junto com Tom McCarthy –, Spielberg, mais uma vez, comanda uma história verídica, dessa vez do ponto de vista jornalístico, e sobre um dos mais controversos eventos da humanidade: a Guerra do Vietnã.

No filme, o analista militar Daniel Ellisberg (Matthew Rhys) rouba documentos sigilosos do governo estadunidense que revelam vários segredos obscuros sobre a Guerra do Vietnã – inclusive, o conhecimento do governo sobre o fracasso dos Estados Unidos na guerra, e a persistência nela mesmo assim.

Após o The New York Times ter acesso a algumas páginas, o jornalista Ben Bagdikian (Bob Odenkirk), do The Washington Post, consegue a cópia integral de todo o documento.

Com isso, a dona do Post, Kay Graham (Meryl Streep), entra no dilema de deixar de lado os documentos e ignorar tudo, como os acionistas liderados por Arthur Parsons (Bradley Whitford) desejam, ou comprar a briga contra o governo e publicar os arquivos do Pentágono, junto ao seu editor-chefe, Ben Bradlee (Tom Hanks).

A história verídica se passa no começo da década de 1970, e é um dos momentos mais polêmicos de todos os governos estadunidenses. Para garantir a melhor performance em uma história tão delicada, Spielberg convocou dois dos maiores gênios da atuação de toda a história do cinema para trabalharem juntos: Meryl Streep e Tom Hanks comandam o elenco extremamente talentoso, com suas habilidades sobre- humanas de atuação, mais uma vez, utilizadas com destreza em The Post.

Meryl Streep é, sem sombra de dúvidas, a maior atriz de todos os tempos. O seu recorde absurdo no Oscar – é a pessoa mais indicada a um prêmio de atuação na história da Academia, além de ser a atriz mais vitoriosa da premiação, com 3 Oscars – não é incoerente, e a cada filme que ela participa, ela prova isso – e acumula mais uma indicação.

Em The Post, como Kay Graham, ela passa o dilema de assumir o jornal da família que não esperava assumir, ao mesmo tempo que tenta mostrar que é apta para o serviço, e provar a todos que uma mulher poderia, sim, estar no comando de um jornal e torná-lo ainda maior.

Com transições impressionantes, uma ternura singular e uma presença marcante em cena, Streep se torna Graham e se entrega ao papel, tomando as decisões como Graham tomou e ajudando a eternizar a comandante do Post na história – como só Meryl Streep conseguiria fazer.

E ao seu lado, não poderia ter alguém com um cacife menor que o de Tom Hanks. O vencedor de dois Oscars consecutivos se torna Ben Bradlee de forma magistral. Hanks atua com uma força absurda em The Post – uma das suas atuações mais fortes de todos os tempos.

O editor- chefe do Post representa toda a força do jornalismo ao organizar, junto com o seu time de jornalistas, uma força-tarefa para ordenar os documentos do Pentágono e redigir a reportagem, enquanto também luta contra os acionistas do jornal e contra a tentativa de censura do governo estadunidense para convencer Kay a autorizar a publicação e soltar a matéria ao público. Junto com Streep, Hanks monta o motor de The Post e movimenta o filme tanto quanto ela.

E quando Streep e Hanks estão juntos em cena, é de marejar os olhos com tanto talento.

Além dos dois, Spielberg convocou um elenco talentoso para compor The Post com os dois protagonistas: Sarah Paulson é Tony Bradlee, a mulher do editor-chefe que apoia o marido e a equipe durante a construção da matéria; Matthew Rhys é Daniel Ellisberg, o analista que consegue os documentos sigilosos; Bob Odenkirk interpreta Ben Bagdikian, o elo entre Ellisberg e o Post; Bradley Whitford é Arthur Sanders, o acionista que tenta impedir que o jornal publique a matéria; e Bruce Greenwood se caracteriza totalmente como Robert McNamara, o Secretário de Estado dos governos Kennedy e Johnson.

Além das atuações fortíssimas, é perceptível o toque forte de Spielberg no comando de The Post. Assim como todos os seus filmes, The Post não teria uma boa parte da sua qualidade sem o diretor no comando, que tem uma experiência e um conhecimento absurdos, e que lhe permitem aplicar uma visão peculiar a todos os seus filmes, mesmo após anos de atividade.

O filme tem várias cenas panorâmicas e tomadas sensacionais que levam a assinatura de Spielberg, junto com a trilha sonora de alta qualidade de John Williams, o homem de confiança de Spielberg para música. O conjunto da obra prende a atenção como só ele sabe fazer. Não é à toa que o seu nome é sinônimo de qualidade cinematográfica há décadas.

E como todos os seus filmes, Spielberg passa, dessa vez, uma mensagem fortíssima sobre a liberdade de imprensa, e sobre a importância do jornalismo em momentos de crise, como o da Guerra do Vietnã.

Em todos os momentos, o filme luta para mostrar que o direito de publicar deve ser preservado, mesmo contra o governo, por trabalhar, como no próprio filme é dito, para os governados, e não para os governantes.

Mais uma vez, Spielberg traz um filme de alta qualidade, com um elenco de primeira linha, incluindo Meryl Streep e Tom Hanks na linha de frente, com um tema controverso e uma mensagem sobre informação que parece mais atual do que nunca.

The Post: A Guerra Secreta foi indicado a 2 Oscars em 2018:

• Melhor Filme;
• Melhor Atriz, para Meryl Streep.

A cerimônia de entrega dos Oscars em 2018 ocorrerá na noite de domingo, 4 de março.

Trailer | The Post: A Guerra Secreta