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DOUTOR ESTRANHO ED.1 | VALE CADA CENTAVO

Na Mosca Panini! 

Doutor Estranho[dropcap size=small]C[/dropcap] om Doutor Estranho chegando aos cinemas em dezembro passado era natural que a Panini aproveitasse a oportunidade para lançar algo do Mago Supremo em terras tupiniquins, já que nos EUA o mesmo estava com material novo em andamento desde final de 2015, fase pós Guerras Secretas II, a chamada Totalmente Nova, Totalmente Diferente Marvel (All New, All Different Marvel).

Stephen Strange ganha uma revista solo, algo com uma pitada de ineditismo, mas que se alinha com a politica da Panini de aproveitar os lançamentos cinematográficos do MCU, a mesma já havia desenvolvido estratégia semelhante na época de Homem de Ferro 2 com  o novo título O Invencível Homem de Ferro que inicialmente contava com o Vingador Dourado e posteriormente com o filme solo do Thor passou a dividir a revista com o Deus do Trovão, tendo seu título alterado para Homem de Ferro & Thor.

Isso se repetiu na ocasião com o lançamento de Capitão América – O Primeiro Vingador, onde a Panini nos trouxe Capitão América & Vingadores Secretos, neste caso a surpresa não foi tão grande já que o Capitão já havia possuído títulos próprios anteriormente no Brasil.

Talvez a única que supere a revista solo do Doutor Estranho em ineditismo seja a edição intitulada Guardiões da Galáxia, esta sendo lançada aproveitando o estrondoso sucesso do filme homônimo nas telas, a surpresa pelo lançamento do título se deu pelo fato do grupo ser praticamente desconhecido até mesmo entre a grande maioria dos leitores de HQs antes da película estrear nos cinemas!

Não é a primeira vez que o Doutor Estranho tem um título solo no Brasil, mas é um fato um tanto obscuro e desconhecido por muitos fãs de quadrinhos. Em 1972 a Editora Minami & Cunha lançou Dr. Mistério: O Mestre das Artes Místicas, tendo apenas duas edições publicadas. Nos EUA o Mago Supremo não tinha um título mensal desde 1996, quando Doctor Strange: Sorcerer Supreme foi descontinuado.

Magias & Consequências

Capitaneando a nova série do Doutor Estranho esta Jason Aaron vencedor do Eisner Awards 2016 como melhor roteirista (Southern Bastards/Image, Men of Wrath/Marvel Icon, Doctor Strange/Marvel, Star Wars/Marvel, Thor/Marvel) e pra arrematar Southern Bastards (Image) levou melhor série também.

Ao lado do consagrado autor temos ninguém menos que Chris Bachalo, cuidando de desenhos e cores (repetindo a parceria vista antes em Wolverine e os X-Men). Bachalo é um artista que possui um traço extremamente peculiar, conheci o mesmo em Shade the Changing Man, seu desenho já chamava atenção, de lá pra cá foram inúmeras obras cada vez mais refinadas e interessantes entre elas: duas séries da Morte /Vertigo, Geração X/Marvel, X-men/Marvel, Uncanny X-Men/Marvel, Ultimate X-Men/Marvel, Steampunk/ Cliffhanger & Wildstorm Comics.

A arte-final fica por conta de um time de artistas capitaneados por ninguém menos que o talentoso Tim Townsend, arte-finalista que se consagrou ao fazer parcerias com os mais variados e renomados artistas da indústria dos comics; astros como o próprio Chris Bachalo, Joe Madureira, Frank Quitely, Michael Turner, David Finch, J. Scott Campbell, Art Adams, e Jim Lee. Towsend é acompanhado nesta nova jornada por Al Vey e Mark Irwing. A equipe desenvolve um trabalho virtuoso e preciso acrescentando peso ao trabalho de Bachalo sem desvirtuar o mesmo.

Em Doutor Estranho, Bachalo continua extremamente detalhista e com uma narrativa inventiva e agradável, além do desenho as cores são desenvolvidas por ele, casando perfeitamente com a proposta de Aaron. A dupla promove um passeio pelo universo do Doutor Estranho onde o tecido das realidades se irrompe constantemente, e recursos como retirar a cor de certas passagens para denotar a percepção peculiar de Strange pontuam muito bem esta alternância de realidades.

Mais um ponto para a nova revista do Mago Supremo, é a proposta de explorar novas possibilidades, e elementos inusitados são acrescentados; o Doutor Estranho agora usa armas místicas para auxilia-lo em sua contenda com as forças das trevas, machados, escudos, arco e flecha, são algumas das propostas do autor para potencializar a ação no universo místico da Marvel:

“Vamos vê-lo usar seus poderes de forma tradicional e acrescido a isso usar um monte de armas diferentes das mais variadas formas, com isso ele será capaz de mergulhar em diferentes tipos de luta. É uma forma de ele dar um novo passo, adicionar outra peça ao seu arsenal, por assim dizer. E também para vê-lo enfrentar diferentes situações, sujar as mãos de uma forma que nunca vimos antes.”

– Jason Aaron

Doutor Estranho
Aaron, Bachalo & Townsend

Um dos fatores que o autor comenta e que acaba trazendo uma noção de causalidade muito oportuna é que ao usar seus poderes Strange sofre consequências físicas e psíquicas, algo que torna o uso destes poderes numa via de mão dupla, ser um Mago Supremo superpoderoso sem restrições seria atraente para qualquer mortal, mas há um preço a ser pago, com isso a conjuntura se altera drasticamente. Isto é apenas uma pitada do que Aaron e Bachalo trazem nesta nova jornada do Doutor Estranho.

 “Eu acredito que está é a única regra da magia que devemos observar: tudo que ele faz, tem um preço.“

– Jason Aaron

Doutor Estranho: Vale Cada Centavo

O que se percebe na leitura desta nova empreitada de Stephen Strange pelo engenhoso Jason Aaron, é a busca por focar o lado mais humano do personagem; o leitor pode ser um fã das antigas um leitor mais recente de quadrinhos, ou alguém que assistiu ao filme e sentiu vontade de ler algo do Mago Supremo da Terra.

O mais legal disto é que independentemente de onde você esteja pegando o “bonde” Aaron consegue arrumar a casa de uma forma que vai ser agradável a todos, apresentando detalhes e nuances que fazem com que o leitor comece a se familiarizar com o universo de Stephen Strange, ou revisitar muitos conceitos, o roteiro flui de forma tão precisa que fica a sensação de estarmos voltando para um lugar familiar…

Doutor Estranho

Na primeira edição que inicia o arco com a história O Método do Bizarro, encontramos uma página de abertura com 16 quadros de várias histórias da fase de Steve Ditiko, dando uma espécie de resumida na origem e trajetória do Doutor Estranho. A temática proposta é que Stephen Strange trabalhe em casos onde é “contratado” para desvendar os males sobrenaturais que assolam desavisados mortais, que desconhecem as realidades paralelas que os circundam. O caso inicial é de um menino atormentado por espíritos devoradores de almas vindos de outra dimensão.

Com isso Aaron não só inova trazendo elementos como armas místicas, mas resgata além do conceito de investigações paranormais, como era visto nos primórdios das aventuras do Mago Supremo, o conceito de viagens interdimensionais, isto tudo vai ser potencializado pelo tom satírico que Aaron traz para as aventuras do Mago Supremo, com um timing de humor preciso, temos várias tiradas em momentos “inoportunos” mostrando quão insólitos são os dias de Strange e as situações pra lá de bizarras com que ele tem que lidar.

Aaron e Bachalo tratam de nos apresentar a conceitos e aspectos que podem se traduzir em lugares ou mesmo pessoas que fazem parte do mundo que compõem o universo do Doutor Estranho, estes são o Sanctum Sanctorum, o seu fiel parceiro Wong (chefe, mordomo, instrutor de artes marciais, zelador entre outras funções) o Bar Sem Portas e a peculiar dieta de Stephen. Nesta primeira edição temos como caso central a história de uma bibliotecária chamada Zelma Staton que possui uma bizarra infecção no topo da cabeça, uma espécie de infestação demoníaca.

Zelma Staton adentra neste universo de forma desavisada, pois esta enfrentando problemas que desafiam a lógica e tem que recorrer a um método não ortodoxo que acaba por desafiar seus conceitos do que é real ou não. De imediato nos identificamos com a personagem e passamos a tê-la como fio condutor nesta série de descobertas, pois assim como para Zelma tudo é novo para o leitor, mesmo para os veteranos, não vão faltar surpresas. Começamos a conhecer tecidos e camadas de uma realidade muito além do que nossos olhos e percepção são capazes de vislumbrar e muito mais rica, complexa e perigosa do que possamos conjecturar.

Quando Stephen Strange analisa o caso algo acontece abruptamente e as criaturas irrompem da cabeça de Zelma, ao tentar impedi-las Stephen profere um encantamento que por motivos desconhecidos falha e com isso as criaturas demoníacas invadem o Sactum Sanctorum.

Com este repertório que mistura terror, comédia e ação, temos um prato cheio para quem quiser se aventurar nas inusitadas sagas do Mago Supremo da Terra e o que é melhor, a revista tem um preço convidativo de R$7,60, e como só tem historias do Doutor Estranho (duas por edição) acaba apresentando um custo benefício muito bem-vindo com o papel LWC que ressalta a arte de Bachalo.

A edição trás como complemento a história de 05 páginas, O Massacre Vindouro, ilustrada por outro monstro sagrado das HQs, ninguém menos que Kevin Nowlan, artista que ficou consagrado como arte-finalista para o grande público, mas que tem um traço incrível e muito particular, a história também é roteirizada por Jason Aaron. Nela temos vislumbres da orquestração maior que vai assolar a vida de Strange e provavelmente de todos os seres do universo, dado à dimensão do que esta sendo apresentado ao leitor.

Altamente recomendado para quem quer se divertir com os roteiros afiadíssimos de Jason Aaron e com a arte deslumbrante de Chris Bachalo, vale cada centavo!

Doutor Estranho: A Revista

O Doutor Stephen Strange é o Mago Supremo da Terra e passa seus dias protegendo os humanos de ameaças inimagináveis. No entanto, alguma coisa não está certa e um fluxo crescente de criaturas místicas está fugindo para nossa dimensão. Apenas mais um trabalho para o Doutor Estranho!

Doutor Estranho: Detalhes da edição

  • Dezembro/2016
  • Revista Tradicional, Formato 17×26 cm
  • 56 páginas, Papel LWC
  • Capa Couché, Lombada Quadrada
  • Periodicidade Mensal
  • Distribuição Nacional
  • Vendido em Bancas
  • R$ 7,60

 

Sobre o Autor

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É Bacharel em Psicologia, porém optou por sua grande paixão trabalhando como ilustrador e quadrinhista. É sócio do Pencil Blue Studio e Ponto Zero, podendo assim viver e falar do que gosta: quadrinhos, cinema, séries de TV e literatura.

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