Resenha | Oito Detetives, de Alex Pavesi

Oito Detetives é o engenhoso livro de estreia do escritor Alex Pavesi; lançado no país pela Faro Editorial, a obra vem enriquecer as já ricas opções de obras nos gêneros romance policial e suspense investigativo da editora vem se tornado ano após ano uma das casas preferidas para os amantes desses estilos de narrativa.

Oito Detetives é um livro inteligente e engenhoso em sua premissa tanto quanto em sua execução: temos em mãos duas narrativas, a do livro em si e seus protagonistas, Julia Hart e Grant McAllister e as sete histórias escritas pelo segundo em um livro chamado Os Assassinatos Brancos, o qual a primeira tem intenções de republicar.

Nesse paralelo entre as duas vertentes narrativas os leitores tem acesso aos sete relatos fictícios que Grant McAllister construiu a partir de seus estudos matemáticos que culminaram nas definições formais e exatas das estruturas necessárias para se compor um bom romance policial. Ao lado de Julia Hart, ambos vão revisando a antiga obra para dar-lhe uma visão adequada para um relançamento depois de longos anos fora do mercado…

capa do romance policial Oito Detetives, de Alex PavesiNas sete histórias do escritor Grant, são elencados os elementos que estão presentes em todos os romances policiais já escritos e nos que ainda virão, o personagem aponta princípios básicos e as permutações que podem haver entre eles para expandir as possibilidades de se criar histórias de romances policias.

Sua engenhosidade é um encanto para a jovem editora que viaja muitos quilômetros até a pequena ilha no meio do mediterrâneo onde Grant vive recluso há anos desde que seu primeiro e único livro fez sucesso.

Intrigada não só pela obra, mas acima de tudo por seu autor, Julia vai passando em revista cada um dos sete relatos experimentais de Grant em seu Os Assassinatos Brancos; estranhamente Julia vai encontrado diversas inconsistências em cada um dos contos de Grant, bem como uma certa quantidade de coincidências com crimes reais.

Determinada a descobrir os segredos de Grant, Julia começa a se enredar na história do escritor, nos motivos de sua reclusão e em como tem sobrevivido tão distante de tudo e de todos sem ter uma fonte de renda aparente.

Assim como na obra de Grant, sua vida também parece permeada de inconsistências e mistérios que a jovem editora está disposta a tudo para desvendar.

A história dentro da história

Alex Pavesi é um nome a se guardar na lista de autores para acompanhar. O jovem autor mostra bem a que veio neste seu livro de estreia que é inteligente e muito, muito versátil.

Talvez os apressadinhos deem uma estranhada no ritmo da obra que ora nos mostra um dos contos do livro fctício Os Assassinatos Brancos, ora nos mostra a narrativa dita real, onde a jovem editora Julia trava instigantes diálogos com o velho escritor Grant, cujo sucesso de outrora desperta grande interesse nos empregadores de Julia.

Nesse jogo duplo entre a narrativa dentro da narrativa, de personagens sendo lidos por personagens é que Pavesi desenrola para seus leitores uma espiral labiríntica que flerta com um tanto de inovação de um lado com outro tanto da boa e velha narrativa de romance policial do outro. E, talvez, esse jogo de xadrez que vai e volta entre os dois focos narrativos da obra seja o ponto que torna o livro um tanto lento para os leitores do romance policial padrão.

Aqui Pavesi não está preocupado em instigar seu leitor para pensar em quem são os possíveis culpados, nem no jogo de gato e rato entre o tira durão e algum genial ladrão charmoso, menos ainda nas peripécias de um misterioso serial killer oculto às vistas de todos.

Não mesmo; aqui o jogo é outro e à medida que a narrativa vai avançando os mistérios em torno de Grant, seu livro e seu passado vão se adensando sobre nós sem que em momento algum os leitores consigam realmente montar o quebra-cabeças que é esse maravilhoso Oito Detetives.

Inclusive acho Oito Detetives um livro muito criativo nesse sentido de escapar aos padrões dos romances policiais em acumular informações de uma cena de crime, elencar vários suspeitos, descrever cenários desnecessário para alongar a trama entre outros vícios utilizados para desviar a percepção do leitor que normalmente se foca mais em “descobrir o culpado” do que em apreciar um processo narrativo mais elaborado ou mais complexo.

Quebra-cabeças, essa é a palavra melhor define o que Pavesi nos entrega; cada peça que nos é dada em contemplação na leitura, cada um dos sete contos de Os Assassinatos Brancos, é uma peça que ao mesmo tempo faz parte dos mistérios que sondam seu autor quanto de um mistério ainda maior que despertou em Julia suspeitas de que o velho escritor esconde em seus contos algo muito mais sombrio do que apenas permutações matemáticas para histórias policiais.

Alex Pavesi, autor de Oito detetivesEngenhoso não só em sua trama labiríntica, Pavesi também é muito criativo ao separar sua prosa da narrativa principal da prosa da narrativa “escrita” por Grant em seu livro fictício. Cada conto tem sua própria identidade, ritmo, situações, personagens e desfechos; nada neles é desprovido de singularidade, charme e capacidade de nos enredar.

Pavesi sabe cimentar a trajetória do leitor pelo caminho de seu labirinto espiralado; ao mesmo tempo que temos a sensação de avanço, sentimos também que esse avanço nos empurra para um poço sombrio de explicações turvas, de percepções enganosas.

Há na obra toda a incômoda sensação de opressão, o sentido de algo sombrio e obscuro nos rodando é extremamente perceptível em toda a obra. Ironicamente, Oito Detetives passa longe de um livro de suspense sobrenatural; no entanto a aura que a narrativa nos entrega o tempo todo acaba fazendo deste livro uma algo bem perturbador inclusive nessa direção.

Mas se o leitor não está convencido até agora a embarcar nesse fascinante experimento narrativo cuja maestria do processo nos entrega mistérios obscuros a cada investida de Julia sobre a obre de Grant, então fique sabendo que os últimos capítulos de Oito Detetives guardam reviravoltas espetaculares, revelações assustadoras e uma torrente de informações que vão prender qualquer leitor nas páginas do livro e só as soltar virar a última delas.

Se Oito Detetives não é inteiramente uma novidade no sentido de utilizar-se do recurso do “livro dentro do livro”, não se preocupe, Pavesi soube com muita inteligência dar a esse recurso novo fôlego e ritmo ao trazê-lo para a narrativa do romance policial; só por isso já é mais do que válida a aposta da Faro Editorial nessa estreia.

Se você é fã das obras de escritores como Agatha Christie, Raymond Chandler e mais recentemente de Charlie Donlea, Alex Pavesi e seu Oito Detetives tem grandes chances de te capturar e jogar dentro de seu labirinto narrativo.

Oito detetives | Sobre o autor

Alex Pavesi mora em Londres, onde escreve em tempo integral. Trabalhou como engenheiro de software e, antes disso, obteve doutorado em matemática. Ele gosta de quebra-cabeças e longas caminhadas. “Oito detetives” é o seu primeiro livro e foi aclamado pelos maiores autores do gênero.

Oito detetives | Ficha Técnica

  • Título: Oito detetives
  • Autor: Alex Pavesi
  • Formato: 16×23 cm
  • Páginas: 288
  • ISBN: 978-65-86041-60-6
  • Editora: Faro Editorial
  • Preço: R$ 49,90

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Sobre o Autor

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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.

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