Resenha | O Corvo, de Edgar Allan Poe

Lançado há mais de 200 anos, poema O Corvo inspira gerações e é um marco na literatura mundial.

Seguindo com seus lançamentos de obras clássicas da Literatura Mundial, depois de Alice no País das Maravilhas e O Pequeno Príncipe, é a vez d’O Corvo, poema do celebrado escritor Edgar Allan Poe chegar ao catálogo da Faro Editorial.

“Nunca mais”

Um dos poemas mais celebrados dos últimos tempos, O Corvo, de Edgar Allan Poe (publicado originalmente em 1845), tem dezenas de traduções, está um dezenas de coletâneas e intriga gerações de leitores ao redor do mundo, não é por acaso que a edição da Faro Editorial para o célebre poema está caprichadíssima e faz jus ao legado de Poe em forma e conteúdo.

Lançado em dezembro de 2020 pela Faro Editorial, O Corvo veio enriquecer o catálogo da editora no segmento de clássicos consagrados na literatura mundial.

Com edição capa dura e contendo as ilustrações originais, esta versão do poema conta com tradução de Thereza Christina Rocque da Motta que também nos presenteia com ótima nota de tradução na abertura da edição que, não fosse suficiente todo o apuro estético na parte física da obra, ainda é bilíngue, permitindo aos leitores apaixonados pelo soturno poema, fazerem as devidas comparações entre o texto de Poe e o trabalho de Motta na tradução.

O Corvo que entrou pela janela

Em uma noite estranhamente obscura, o narrador adormece sobre uma leitura quando é súbita e repentinamente acordado pelo roçar de um visitante à sua porta.

Sem entender o que se passa e quem seria o tardio visitante, o narrador divaga, se perde em pensamentos naquela noite de dezembro, saudosamente melancólico pela perda da amada Lenore.

capa do livro “O Corvo” de Edgar Allan PoeAssim começa a sinuosa jornada do leitor pelo relato magistral que Poe tece, constrói, monta, encadeia, entrela com maestria dos grandes poetas da antiga Grécia. Primor de técnica, forma e conteúdo, O Corvo (The Raven no original) nos enreda já nas primeiras linhas por uma atmosfera sombria, pesada, misto de tristeza, saudade, nostalgia e fantasmagoria.

Mas para além da beleza poética do texto (inegável) em seus 108 versos, Poe imputou em O Corvo uma narrativa misteriosa e cheia de símbolos, jogos de palavras e sentidos múltiplos, mostrando e escondendo uma série de  sentimentos e claro, acima de todos, os fantasmas do próprio autor que, tal qual o narrador, lamenta a perda da pessoa amada.

A ambientação criado por Poe impõe seu peso em toda leitura, a atmosfera sombria, densa e depressiva da noite em que o pássaro negro se aventura pelo quarto do narrador é palpável ao mesmo tempo que se mostra algo onírico, intangível com atmosfera típica de um sonho… ou de pesadelo.

Uma verdadeira narrativa fantasmagórica, perturbadora ao mesmo tempo que nos revela uma imensa tristeza, solidão, abandono e entrega à solidão da perda.

Foi justamente essa mistura de perfeição formal com a atmosfera obscura e enigmática fez do poema de Poe vasto arcabouço de inspiração para outros tantos escritores e obras. Tema de discussões, debates, análises, adaptações, um sem número de traduções para praticamente todos os idiomas do mundo, O Corvo se tornou um texto praticamente obrigatório nas principais coletâneas de Poe e de poesia em geral.

Esta edição da Faro Editorial vem também permitir aos leitores — não só o deleite da escrita de Poe que já dispensa qualquer tipo de elogio ou alongamento analítico — mas também o deleite das igualmente sombrias ilustrações de James Carling que compunham a edição original d’O Corvo.

O narrador solitário em seu quarto, o corvo à sua porta, a lápide do túmulo de Lenore, o voo da ave negra até seu pouso sobre o busto de Atena, os fantasmas que rondam o narrador… cada detalhe do poema é transposto de forma perfeita pelo ilustrador, dando às suas imagens toda a tônica que existe no texto de Poe.

Encarar O Corvo pela primeira vez foi uma tarefa muito, muito difícil para mim. Minha trajetória como leitor foi toda construída em cima da prosa: narrativas longas, contos, crônicas, grandes romances, épicos, ficção científica. Mas a poesia nunca fez parte constante de meu processo de formação como leitor, o próprio O Corvo eu havia encarado apenas uma vez em outra traduções/edição e  apesar de ter sido já na ocasião arrebatado pela obscuridade melancólica do texto, a minha imaturidade dos meus vinte e poucos anos não me partiu mergulhar realmente naquele universo de sombras e simbolismos que Poe magistralmente havia criado.

Acho que soma-se a essa nova experiência muito mais forte e emblemática com essa edição o fato de constar o texto em inglês e as reproduções das ilustrações originais que para mim fizeram toda a diferença na composição, uma vez que, como designer gráfico e ilustrador, acabo pensando os textos também como imagem e o trabalho de Carling falou demais nessa experiência.

Por fim, a idade e as muitas leitoras dos últimos 20 anos (hoje tenho 40 anos de idade), me fizeram ver o rico universo d’O Corvo e de toda sua carga estética e narrativa que anos atrás eu não tinha a menor capacidade de perceber de forma mais ampla e completa.

Desde a chegada da edição em minhas mãos, já fiz mais de 10 leituras do poema e cada vez que voltava a ele algo parecia ganhar novos contornos e significados. Depois dessa experiência eu realmente compreendi os motivos desse poema ser tão elogiado, tão referenciado, dele ser tão inspirador e inquietante, pois ele parece nos convidar a voltar e voltar e reler e reler, começar e recomeçar sua jornada num ciclo constante de atração entre leitor e obra.

Se você já leu O Corvo antes, leia novamente nesta edição, se você nunca o leu, esta é a oportunidade perfeita de se enredar nessa trama de sombras, memória, sonhos e sentimentos.

Demorei muito para pensar no que e no como escrever esta resenha, acredito que inclusive seja uma das mais difíceis que já tive de fazer e um dos motivos disso se dá pelo pouco contato e conhecimento que tenho de Poesia, mas ao mesmo tempo o elemento estético aqui é tão forte, tão evidente e tão marcante que foi também muito fácil perceber que rumos dar ao texto buscando passar para você, leitor, essa beleza toda contida nas sombras do quarto do narrador em uma noite fria de dezembro.

Hoje, sempre que olho para esse belíssimo livro — em forma e conteúdo — ecoa em meus pensamentos algo sobre ele: sabe quando você vai conseguir se desvencilhar do que diz o Corvo? NUNCA MAIS…

E se numa noite chuvosa uma ave negra roçar a porta de seu quarta e quiser ter com você uma conversa estranha, abra a porta, deixa-a entrar, se empoleirar sobre a sua mente e ali criar um ninho para morar, rememorar e cantar se multiplicar. O Corvo nunca ficará muito tempo fechado em sua estante, pois a vontade da ave em alçar seu voo é irrefreável.

O Corvo | Sobre os autores

Edgar Allan Poe nasceu em Boston em 19/01/1809 e faleceu em Baltimore em 7/10/1849. Foi poeta, contista, editor, crítico literário e trabalhou em diversos jornais em Richmond e Nova York, onde publicou diversas de suas histórias.

Edgar Allan PoePoe foi um dos primeiros contistas americanos e é considerado o inventor do gênero de ficção policial e científica, e o primeiro a tentar sobreviver como escritor.

Casou-se em segredo com sua prima Virginia, de 13 anos, que veio a falecer 11 anos mais tarde de tuberculose, dois após a publicação de “O Corvo”, em 1845. 

Em 1839, foi publicada, em dois volumes, sua coleção Tales of the Grotesque and Arabesque (traduzida para o francês por Baudelaire como Histoires Extraordinaires), que, apesar do insucesso financeiro, é apontada como um marco da literatura norte-americana.

Entre seus vários contos famosos estão “O gato preto” e “Os assassinatos da Rua Morgue”.

James Carling (31 de dezembro de 1857 – 9 de julho de 1887) nasceu em 31 de dezembro de 1857 em Liverpool, na Inglaterra. Sua mãe morreu quando ele tinha apenas 6 anos e seu pai morreu 4 anos após a morte de sua mãe. Desde muito jovem, James era conhecido por usar as ruas de Liverpool para sua arte e para mendigar por dinheiro.

Em 1871 foi para os Estados Unidos, e, aos 23 anos, participou de um concurso da revista Harper’s Magazine para ilustrar uma edição especial do poema mais famoso de Edgar Allan Poe, O Corvo. Seus desenhos estão agora expostos no Museu Edgar Allan Poe, na Virgínia, Estados Unidos.

Voltou a Liverpool em 1887 com intenções de promover sua arte e carreira, mas sua vida foi interrompida precocemente. Carling ficou doente e morreu em 9 de julho de 1887, com apenas 29 anos.

O Corvo | Ficha Técnica

  • Título: O corvo
  • Autor: Edgar Allan Poe
  • Páginas: 96
  • Preço: R$49,90
  • Dimensões: 23 x 5 x 16 cm
  • Acabamento: Capa Dura
  • Tradutor: Thereza Christina Rocque da Motta
  • Editora: Faro Editorial
  • Lançamento: 4 dezembro 2020

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Sobre o Autor

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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.

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