O trânsito de profissionais entre diversas áreas de produção de entretenimento só tem aumentando nos últimos anos e gerado frutos, no mínimo, promissores. Desenhistas, roteiristas, diretores criativos e tantos outros tem se aventurado fora de suas costumeiras áreas de ação e arriscado, quando não migrado em absoluto, para projetos em mídias completamente diferentes de suas raízes. Para citar um exemplo bem claro disso, basta olhar para a carreira do desenhista Joe Madureira.

Madureira estourou no concorrido mercado das Comics americanas ainda em meados da década de 1990 na geração pós Jim Lee e Cia LTDA. Com um traço misto do típico traço das HQs da terra do Tio Sam aliado a uma leitura completamente pessoal do estilo de desenho mais comum dos mangás, Madureira não tardou a agradar as grandonas e a ilustrar títulos de ponta como os X-men, por exemplo. Depois veio aquela inquietação que assolou muitos jovens artistas como Madureira que foi cuidar de criar seus próprios personagens e histórias sem o pesa da mão de ferro editorial das grandonas.

Apesar de conturbada e incompleta, a HQ Battle Chasers fez um bom sucesso e agradou os leitores da época com seu estilo meio “Caverna do Dragão mangá“, com elementos estéticos bem comuns ao traço de Madureira aliados a elementos bem característicos da estética de RPGs. Sem ter sido finalizada, Battle Chasers acabou ganhando um status meio cult entre os leitores da época. Ainda com aquela coceira mental de criar coisas novas, Madureira largou praticamente uma sólida e estável carreira nas HQs e entrou de cabeça na indústria dos games com seu próprio estúdio, o Vigil Games.

Lançado em 2010, o game Darksiders, primeiro do estúdio e claro, debute de Madureira, fez um bom sucesso entre o público em geral. Uma das principais características do game era ser uma quimera de um sem número de estilos de jogos como Zelda, Devil May Cry, God of War, Tomb Raider entre outros.

Misturando RPG e ação frenética, o game trazia o cavaleiro do Apocalipse Guerra envolvido em uma conspiração entre forças soberanas do Céu e Inferno para iniciar o fim do mundo fora de época na Terra. Com o sucesso do primeiro game, em 2012 chegava Darksiders 2 (veja AQUI o lançamento da versão em HD do game), dessa vez estrelando o cavaleiro Morte como protagonista em uma trama paralela aos acontecimentos do primeiro game.

Elogiadíssimo por crítica e público, DKS2 deixou os gamers com um gostinho de quero mais para sua continuação ou, como se especulava na época, continuações. Mas o tempo foi ingrato com a THQ, proprietária do Vigil Games e de sua franquia apocalíptica, infelizmente a empresa faliu. Perdido num limbo de venda de propriedades intelectuais, a franquia Darksiders ficou na geladeira até que foi finalmente adquirida pela Nordic Games, a responsável por Darksiders 2 Deathinitive Edition na atual geração de consoles.

Lembra da coceira mental que dá no Madureira? Pois é, atacou de novo em algum momento entre o fim do Vigil Studios e a possibilidade de criar um game de forma completamente independente. Mas ao invés de criar tudo do zero, o desenhista resolver tirar do limbo justamente Battle Chasers e dar vida nova ao seu mundo de fantasia. 

Battle Chasers: Nightwar é, novamente, um game que mistura um punhado de estilos diferentes para agradar, com absoluta certeza, número maior de jogadores. Pelo visto a estratégia funcionou a contento, pois em praticamente dois dias e meio, isso mesmo, DOIS DIAS E MEIO, o game fechou sua cota base no Kickstarter, plataforma de financiamento coletivo americana.

Ok, outros projetos já fizeram algo similar, mas só quero frisar que Battle Chasers: Nightwar faturou mais de 500 mil dólares em dois dias, garantindo praticamente de saída sua produção tão logo se encerre o período de 30 dias no Kickstarter. Já com vídeos in game, concept arts, uma história de base pronta (a HQ, lembra?), o nome de Madureira diretamente na produção, não foi difícil garantir o sucesso da empreitada.

Battle Chasers: Nightwar é um RPG por turnos e que mistura elementos com games de Dungeons como Diablo, por exemplo. O jogador controle um dos personagens que caminha pelas Dungeons vasculhando cada canto e se esquivando de armadilhas e da possível abordagem de inimigos que podem “puxar” o grupo do jogador para batalhas em turnos ao melhor estilo Final Fantasy.

Com um belíssimo e muito bem organizado projeto, Battle Chasers: Nightwar é uma propriedade do Airship Syndicate, estúdio indie de Madureira. Agora o projeto ruma para garantir suas metas estendidas no Kickstarter, missão essa que, com mais de 25 dias ainda em curso, vai ser cumprida, acredito eu, a contento.

Battle Chasers: Nightwar – A história

A Linha Cinza (The Grey Line no original) é um muro impenetrável de névoa que paira sobre as Águas do Oeste e se estica infinita de norte a sul, elevando-se a partir de crista oceano para o céu escuro acima. Nada jamais veio de lá, ou sobreviveu após entrar pelo monólito histórico. O grande herói Aramus sentiu o chamado da Linha Cinza e a cruzou apesar dos perigos. E, assim como incontáveis guerreiros, vagabundos, fugitivos e caçadores de fortuna antes dele, nunca mais voltou. Agora, sua filha Gully e seu grupo improvável de aventureiros vai se aventurar em meio à névoa para descobrir o destino do pai de Gully.

Ao longo do caminho eles vão se encontrar amigos e inimigos enquanto montam a história silenciosa da Linha Cinza e os segredos obscuros de seu interior. Obviamente o jogador não precisa nem se preocupar, o elenco principal da HQ está todo no game: Garrison, Monika, Calibretto, Gully e Knolan; cada qual com suas particularidades, estilos e habilidades dentro do game como tem de ser em qualquer bom RPG que se preze.

O game tem previsão de lançamento para dezembro de 2016 para PC, Mac e os consoles da atual geração, Xbox One e Playstation 4.

Link do projeto no Kickstarter AQUI