O Livro É | O Escravo de Capela, de Marcos DeBrito

A Faro Editorial vem trazendo uma nova remessa de autores graúdos e já consagrados da literatura de terror, no que, para mim, fará com que essa excelente editora vire logo a casa do terror nacional. E não foi diferente com seu recente lançamento, Escravo de Capela, do já experiente cineasta e escritor Marcos DeBrito.

A história escrita por esse excelente autor nos mostra, com um realismo terrível, a verdade sobre o período escravocrata brasileiro, além de recontar a origem de seres folclóricos de maneira terrível e muito, mas muito interessante (veja nossa chamada de lançamento da obra AQUI).

Vamos falar dessa obra que me deixou horas lendo sem parar.

A realidade de um escravo

A fazenda Capela, comandada pelos Cunha Vasconcelos, vivia um momento de extrema felicidade. Após anos, o filho mais novo do grão-senhor Batista Cunha Vasconcelos, Inácio, retornava de Portugal, para onde havia ido estudar medicina. Recém-formado, regressava ao lar para um período de retiro com sua família, antes de rumar para novos horizontes.

Inácio, que convive desde pequeno com o abandono de sua mãe, que sumiu sem deixar qualquer vestígio, desde pequeno abomina o que é feito em Capela: o uso de escravos para manter um engenho de cana de açúcar.

Com uma marca a respeitar na indústria de destilados, os Cunha Vasconcelos empregavam o mais terrível tratamento aos seres humanos negros, vistos por Batista e seu filho mais velho, Antônio, como verdadeiro lixo humano.

O Escravo de CapelaAo retornar, Inácio se reencontra com Damiana, escrava da casa grande, que cresceu juntamente com seu senhor. Agora com a mesma idade, a paixão de criança retorna ainda mais avassaladora.

Damiana não conhece nada sobre seu passado, sendo sempre desenganada pela escrava mais velha da casa, Conceição, para nunca desvendar absolutamente nada. Em pleno preconceito, um amor proibido surge, mas mistérios terríveis estão por trás da origem dos envolvidos.

Nesse meio tempo, chega à senzala de Capela um novo escravo, vindo diretamente da África. Seu nome é Sabola, e ele não consegue compreender nada sobre o que está acontecendo com ele.

Jogado na senzala, encontra um senhor de idade, também escravo, de nome Akili.

Akili, há muitos anos, havia tentado fugir de Capela, porém foi pego por Antônio, o filho mais velho de Batista e feitor do engenho, que logo demonstrou seus traços para a pura crueldade: em punição pela tentativa de fugir, Akili foi brutalmente torturado, ao ponto de ficar com fraturas expostas e membros totalmente destruídos.

Akili só não morreu pois Batista, apesar de não gostar de negros, via com maus olhos a maneira que seu filho tratava os escravos, e não permitiria uma execução cruel como a que se encaminhava.

Com sua vida poupada, Akili foi condenado a uma vida horrível: com membros deformados, que nunca mais sustentariam seu peso, foi forçado a apenas existir, dia e noite, dentro da senzala, recluso, onde possui um único companheiro: seu cachimbo.

Em Sabola, Akili vê a mesma determinação e rebeldia que, tantos anos antes, ceifaram seus movimentos, e arquiteta planos de ajudar o escravo a fugir, o que seria uma vergonha enorme para os Cunha Vasconcelos, mas principalmente a Antônio.

O Escravo de Capela | A fuga e o ressurgimento

Tudo que resumi acima toma quase 100 páginas do livro, fazendo a leitura inicial demorada, por vezes arrastada, mas com fatos de suma importância, pois na página 90 em diante, o horror começa.

Finalmente, depois de idas e vindas, Sabola consegue se ver livre da senzala, em plena festa de aniversário de Batista. Montado em uma mula, ruma, em campo aberto, para a mata, mas não contava que um dos peões estivesse de vigília.

Logo se inicia a caçada, que culmina na captura de Sabola e na decapitação da mula.

Através da tortura psicopata de Antônio, Sabola tem sua perna amputada, é chicoteado e, por fim, asfixiado até a morte. O que ninguém sabia, era que uma magia muito forte estava em andamento, e na noite seguinte, a vingança de um Sabola ressurgido, sem uma perna, com um saco vermelho na cabeça, uma mula decapitada de montaria e uma fúria avassaladora viria em busca da vingança contra os Cunha Vasconcelos.

O Escravo de Capela | Conclusão

Depois da explicação, fica claro que estamos falando de uma reinvenção de dois populares mitos folclóricos nacionais: Saci e Mula sem Cabeça. A reinvenção que o autor, Marcos DeBrito, faz nesse mito é muito original pela trama que se esconde na criação desse ser apavorante e matador.

A figura que todos gostamos do Sítio do Picapau Amarelo dá lugar a um demônio destruidor e matador. Numa narrativa singular, DeBrito prende o autor em cada página em que Sabola, como Saci, ressurge da tumba para sua vingança final. O sangue escorre no livro, e isso é bom para nós, leitores.

O Escravo de Capela
Marcos DeBrito

A Faro Editorial mais uma vez capricha na qualidade física, dessa vez com a novidade da pintura lateral em vermelho sangue e uma capa simples e misteriosa, além da sempre presente impressão de qualidade em material de primeira. O livro me foi enviado com um saco de Juta, além de cards promocionais que só foram cedidos em eventos.

Deixo aqui meu agradecimento mais que especial a Andrea Jocys e ao Pedro Almeida pelo carinho com os blogueiros, e minha recomendação final de leitura a você, leitor. Adquira sua cópia o quanto antes, e leia o mais rápido possível, de preferência a noite, se tiver coragem…

Faro Editorial

 

O Escravo de Capela | Sinopse

QUANDO A MORTE É APENAS O COMEÇO PARA ALGO ASSUSTADOR

Durante a cruel época escravocrata do Brasil Colônia, histórias aterrorizantes baseadas em crenças africanas e portuguesas deram origem a algumas das lendas mais populares de nosso folclore.

Com o passar dos séculos, o horror de mitos assustadores foi sendo substituído por versões mais brandas. Em O Escravo de Capela, uma de nossas fábulas foi recriada desde a origem. Partindo de registros históricos para reconstruir sua mitologia de forma adulta, o autor criou uma narrativa tenebrosa de vingança com elementos mais reais e perversos.

Aqui, o capuz avermelhado, sua marca mais conhecida, é deixado de lado para que o rosto de um escravo-cadáver seja encoberto pelo sudário ensanguentado de sua morte.

Uma obra para reencontrar o medo perdido da lenda original e ver ressurgir um mito nacional de forma mais assustadora, em uma trama mórbida repleta de surpresas e reviravoltas.

O Escravo de Capela | Sobre o Autor

Cineasta premiado, MARCOS DeBRITO vem sendo considerado a grande renovação na produção de filmes de suspense e terror no Brasil. Começou a escrever histórias que lhe vinham à cabeça apenas para lidar com seus próprios medos, na esperança de esconjurar seus demônios e calar as vozes que não o deixavam em paz.

O destaque de sua produção está na crueza como retrata as diferentes faces do mal, mas não é apenas isso. Todas as suas histórias contêm elementos de mistério e surpresas que desafiam o público a desvendar a mente dos personagens.

Diretor, roteirista e escritor, O Escravo de Capela é seu terceiro livro publicado. Condado Macabro, seu primeiro longa-metragem, foi lançado nas salas comerciais em 2015 e vem mostrando a força de sua narrativa em festivais por todo o país e no exterior.

O Escravo de Capela | Links

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O Escravo de Capela

  • 100%
    Premissa - 100%
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    Desenvolvimento - 95%
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    Personagens - 90%
  • 100%
    Contextualização - 100%
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    Processo Narrativo/ Narratividade - 90%
  • 100%
    Conclusão/ Desfecho - 100%
96%

Sobre o Autor

Um leitor assíduo da fantasia e do terror, vem descobrindo aos poucos as maravilhas da Ficção Científica e dos Romances Históricos. Crítico e perfeccionista, procura falhas até nos livros mais perfeitos. Nas horas vagas escuta Heavy Metal e lê ainda mais.

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