Akira | E um caminhão que nunca chegou ao seu destino

Caralho cara! Akira está voltando, desculpem começar logo com um palavrão este texto, mas se você nunca leu o mangá ou assistiu ao anime, realmente não vai entender a dimensão do que isso significa, principalmente para mim. Caso queira descobrir aventure-se até o final do texto, ou pule para o anúncio da revista, a vida é feita de escolhas: pílula azul ou vermelha?

O início de uma era

Foram quase vinte anos para Akira retornar ao Brasil. Ainda lembro como se fosse hoje quando vi a capa da primeira edição em bancas, um cara em uma moto high-tech com ar de marrento insinuando que a partir dali nada mais seria o mesmo.

No início dos anos 90, mangás eram coisa rara no país, Lobo Solitário tinha ganho uma edição pela inovadora Cedibra e Crying Freeman estava saindo pela Nova Sampa e só. Contudo aqueles lançamentos marcavam o início de tempos de transformação profunda no cenário nacional de quem consumia quadrinhos, uma década depois os mangás iriam tomar de assalto as bancas de revista e fomentariam uma nova geração de leitores.

Quando Akira aportou no Brasil, a internet que conhecemos hoje era coisa de ficção científica, não havia quase opções de onde caçar informações sobre o mundo do entretenimento.

Revistas especializadas como  a revista Herói/Editora Acme e a Wizard Brasil/Editora Globo só surgiriam por volta de 1994. Nos restava assistir a uns poucos programas de TV que começavam a se aventurar a falar deste tipo de cultura, ainda muito marginalizada e esquisita aos olhos do grande público, o Top Tv/Rede Record (1992/1994) com a Fabiola Villanova e PH na apresentação, foi um diferencial sem precedentes, inovando e falando diretamente com um público ávido por notícias deste meio ainda pouco explorado.

As definições “geeks”, “nerds” e “otakus” estavam em estágio embrionário. Ainda éramos chamados de “esquisitos” e “CDFs”, “bullying” é um termo que só se tornaria popular décadas depois, neste tempo a “encarnação” era sinônimo de ser “zoado” e a defesa para isso era “não pegar corda” ou no caso não se irritar, ficar bravo, pegar ar, ficar puto, etc…

Fabiola Villanova apresentadora do Top TV/Rede Record

É intrépido leitor, as agruras da vida não foram inventadas com o a internet e com suas redes sociais, o ser humano sempre andou de mãos dadas com seu lado perverso e tosco.

Um caminhão que nunca chegou ao seu destino

Uma coisa que nunca vou esquecer em relação a Akira, o mangá, é de um fato que virou uma espécie de lenda urbana em minha região. A revista estava em sua reta final, pois a obra era prevista para sair em 38 volumes lindamente coloridos, a edição que estava sendo lançada no Brasil era a versão americana da obra, editada pela Epic Comics nos EUA, que no caso era uma subdivisão da Marvel e celebrava uma nova era com quadrinhos com uma pegada mais adulta.

A colorização digital de Steve Oliff era festejada como algo revolucionário dentro da indústria, tudo isso na verdade se tornou fichinha quando num determinado momento um inesperado  e fatídico acidente mudaria tudo.

O caminhão que transportava as edições daquele mês para minha cidade capotou na estrada, e a carga foi extraviada, neste caso entenda “extraviada” como quiser. Ficamos sabendo disso graças ao “Seu Zé” da banca de revista, este era o nosso “hotsite” na época. Com isso algumas revistas em quadrinhos mensais nunca chegariam aos leitores da distante Belém do Pará, e no meio desta carga estava uma determinada edição de Akira que marcaria minha relação para sempre com a obra.

Na época a Editora Globo estava lançando arcos encadernados da saga paralelamente às edições mensais. Ingenuamente acreditei que era só esperar pelo arco onde esta revista especifica sairia e tudo se resolveria, afinal pedir números atrasados pela editora nem sempre era uma garantia de recebê-los.

Minha coleção incompleta de encadernados

Porém o Destino, irmão mais velho do Sandman é um sujeito dado a ironias e não ia facilitar as coisas para mim pois, como a edição nacional de Akira dependia da edição americana que estava atrasada, já que Katsuhiro Otomo não havia concluído a obra no Japão. Akira acabou parando de sair em 1993 no Brasil, até então contava com 33 edições lançadas.

A edição nacional de Akira só voltaria a sair em 1997, a Editora Globo lançou aos trancos e barrancos as edições que faltavam e logo depois acabou abandonando sua linha de quadrinhos e com isso não publicou o encadernado com a fatídica edição que jamais chegou em minha cidade.

Mesmo tendo assistido várias vezes o anime, nunca li a conclusão da saga no mangá. Não procurei em sebos e nem pedi emprestado para quem tinha conseguido. Os scans vieram e em nenhuma circunstância procurei Akira neste formato, algo tinha se quebrado dentro de mim e a magia de ler aquela obra ficou em suspensão!

Com isso o tempo passou e “Kanedaaaaaa!” e “Tetsuooooo!” repousaram num longo hiato, que talvez agora possa ter um final feliz.

Porra Jorge, por que talvez?

Vocês já viram o valor de cada edição? Porra velho, sei lá? Mesmo sendo uma obra adorável e cercada de uma aura mais que especial são “setenta paus”, com toda certeza teremos as possíveis promoções e descontos que só me fazem questionar cada vez mais, se há margem para descontos, as vezes bem significativos, por que não lançar estas obras com um preço mais acessível?

Vou continuar batendo nesta tecla, pode ser uma cruzada solitária, enfim. Quadrinhos encareceram muito e estão ficando cada vez mais longe do grande público, e sempre penso que se não é um produto acessível a renovação de leitores vai pro espaço!

O que mais me surpreende em tudo isso é verificar que quando se aborda esta questão de valores em áreas de comentários de sites de entretenimento ou em redes sociais mais precisamente em grupo de fãs, surgem pessoas com o oportuno argumento de que “compra quem quer” que para mim soa mais como “se diverte quem pode” pois, o mundo nerd/geek/otaku de eventos, quadrinhos, camisetas e demais colecionáveis esta cada vez mais direcionado a quem pode pagar ou muitas vezes nem pode, mas se endivida para adquirir um possível status, retroalimentando este sistema!

Vinte anos depois Akira é um retorno para um seleto grupo de consumidores!

Conheçam a obra

Akira #01

Akira JBCUm dos marcos da ficção científica oriental que revolucionou a chegada dos mangás e da cultura pop japonesa no Ocidente retorna em uma nova edição especial.

Em 2019, 38 anos depois da eclosão da 3ª Guerra Mundial iniciada com uma misteriosa explosão atômica, o mundo estava devastado. Nas ruas de uma Neo Tokyo pós-apocalíptica, jovens delinquentes dedicam suas vidas a espalhar o terror e o caos.

Gangues se enfrentam pela cidade e, após sofrer um acidente inexplicável, Tetsuo Shima, começa a sentir reações esquisitas que parecem ter despertado poderes jamais imaginados. Isso acaba atraindo a atenção de agentes secretos do Governo envolvidos em um projeto com experiências sobre poderes sobrenaturais.

Enquanto Kaneda tenta resgatar seu melhor amigo das garras do Governo, uma terrível e poderosa entidade pode estar prestes a despertar. A trama densa e profunda de Akira leva a discussões sobre poder, corrupção e reflexões sociais, tudo revestido com muita ação.

Dados da Edição

  • Autor: Katsuhiro Otomo
  • Formato:  17,8 x 25,6 cm
  • Número de páginas: 362p.
  • Preço: R$69,90
  • Classificação etária: 18 anos
  • ISBN: 978-85-457-0287-0
  • Fonte: JBC Mangás

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Sobre o Autor

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É Bacharel em Psicologia, porém optou por sua grande paixão trabalhando como ilustrador e quadrinhista. É sócio do Pencil Blue Studio e Ponto Zero, podendo assim viver e falar do que gosta: quadrinhos, cinema, séries de TV e literatura.

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