Recentemente fiz a resenha da primeira obra de Ian Cameron Esslemont no PZ (veja AQUI). Hoje trago para vocês um bate-papo que tive com o autor que, juntamente com Steven Erikson, criou um mundo fascinante chamado Malaz, que já conta com vários livros no exterior, porém só agora, através da Cavaleiro Negro Editora, estamos tendo a chance de conhecer esse incrível mundo.

[dropcap size=small]I[/dropcap]an Cameron Esslemont nasceu em Winnipeg, Canadá e atualmente vive no Alasca com sua esposa e três filhos. Arqueólogo treinado, tem viajado extensivamente pelo Sudeste Asiático e viveu na Tailândia e Japão.

Está atualmente concluindo seu doutoramento em Literatura Inglesa, enquanto trabalha em outras novelas do “Império Malazan”, do qual se espera que haja seis no total. Noite das Facas (Night of Knives no original de 2005) foi seu romance de estreia, seguido por “Return of the Guard Carmesim” (2008).

PZ: Olá Sr. Ian, seja bem-vindo ao Ponto Zero. Como temos alguns leitores que ainda não o conhecem, você poderia se apresentar para o nosso público?

ICE: Saudações aos leitores de fantasia na América do Sul! Eu sou um escritor canadense de fantasia, vivendo atualmente nos EUA. Eu escrevo em um mundo de fantasia co-criado com outro escritor, Steven Erikson, que ambos exploram em nossas novelas.
Eu gosto de pensar no meu trabalho como mais corajoso, “realista”, tomando por base o gênero de fantasia na tradição de Robert E. Howard, Fritz Leiber, Glen Cook e outros.

PZ: Nos conte um pouco sobre como Malazan foi criada? Quando você e Steven começaram as campanhas no RPG e como vocês dois decidiram escrever sobre ela? Vocês planejaram sobre quais partes da história de Malazan cada um escreveria?

ICE: Steve e eu co-criamos o mundo de Malaz como um meio compartilhado para o nosso jogo de RPG. Quando nos encontramos, nós dois já estavamos esperançosos de  nos tornarmos escritores de Fantasia e Ficcção Fientifica, então o mundo foi deliberadamente criado para alimentar nossa escrita. Quando nós tomamos nossos rumos separados, cada um de nós listamos as regiões/períodos que estariamos interessados em aprofundar com mais ficção. A maioria dos itens que constam dessas listas alcançaram o estágio de romance.

PZ: Estamos tendo, enfim, a oportunidade de acompanhar esse incrível mundo de Malazan no Brasil, com a Cavaleiro Negro lançando além de seus livros, ainda a trilogia Kharkanas, escrita por Steven Erikson. Também, teremos a oportunidade ler a série principal de Erikson, Malazan Book of the Fallen, que será lançada em 2017 pela Arqueiro aqui no Brasil. A minha dúvida é se podemos ler suas obras sem nenhum problema para compreender os eventos de Book of the Fallen e qual seria a ordem de leitura ideal entre Night of Knives e Dancer’s Lament?

ICE: As principais séries de Steve e eu estao totalmente integradas e assim podem ser lidas em qualquer ordem. No entanto, em termos de “história”, Noite de Facas é uma espécie de ‘prequel’, como é meu caminho atual para a série Caminho para a Ascensão. No entanto, o nosso trabalho é bastante diferente. Eu trabalhei Noite das Facas como uma espécie de introdução suave para o mundo, e por isso não é tão complexo como um romance que os de Steve tendem a ser – assim como meus romances posteriores. Pessoalmente, eu gostaria de começar com Lamento do Dançarino, mas o problema é que os leitores podem então ser abalados ou adiar a leitura pela diferença de estilo que iria encontrar com Noite das Facas, como eu tento mudar meu estilo (um pouco) com cada romance.

PZ: Especificamente sobre Knight of knives, me chamou a atenção o curto espaço de tempo que a história do primeiro livro se passa, narrando os acontecimentos de apensas uma noite. Como foi escrever somente nesse espaço de tempo?

ICE: Uma das tarefas que eu defini para mim mesmo era que Noite das Facas era abordar a crítica de que romances de fantasia sempre devem cobrir enormes quantidades de tempo, ou a expansão em áreas geográficas “épicas”. Então, eu decidi criar um romance de fantasia que cobre apenas um dia e ocorre em uma pequena ilha. Tudo isso para o meu primeiro romance! Não foi tão difícil quanto eu pensei que poderia ser na medida em que existem histórias em todos os lugares, uma só tem que olhar para as outras.

PZ: Gostei da interação dos capítulos de Kiska e Temper. Foi complicado escrevê-los tão bem, com tamanho contraste entre os personagens?

ICE: Estou feliz que você gostou da interação. Descobri que esse contraste é muito fácil para mostrar a interação! O contraste é grande por escrito, uma vez que lança os personagens com mais firmeza na mente do leitor (eu acredito).

PZ: Até o momento, todas suas obras são voltadas à história de Malazan. Planeja escrever algo fora desse universo? Talvez em outro gênero ou uma outra história de fantasia?

ICE: Sim, eu vou, eventualmente. Eu tenho um número de projetos que eu faço de vez em quando entre romances de Malazan e brinco com eles. A maioria não está pronta ainda – mas isso deve ser apenas porque eu ainda não consegui lidar com eles. Os gêneros que me interessam além da fantasia são ficção científica e a chamada “ficção especulativa”, que é apenas uma figura para a fantasia num sentido mais amplo.

PZ: Todos os livros que você e Steven escreveram são baseados em RPG? Quando um novo livro de outra serie é escrito, ele é baseado no RPG original ou vocês jogam um novo RPG para essa série e seus livros?

ICE: Até agora, no mundo Malazan, sim. Nem todos, mas quase. Por exemplo, a exploração da história inicial de Tiste de Steve não foi jogada, mas partes do meu Caminho para a Ascensão foi.

PZ: Existe alguma diferença que você tenha notado e possa nos dizer entre a sua escrita e a escrita de Erikson, em se tratando de um mesmo mundo?

ICE: Nossa escrita é muito diferente em estilo, eu acho. Considero Steve um artesão magistral em prosa e história. É um privilégio ter trabalhado com ele e eu gosto de pensar que o seu “jogo”, por assim dizer, tem melhorado o meu próprio.

PZ: Gostou da capa que a Cavaleiro Negro nos trouxe? Dessa vez, não tivemos os barcos… Conte-nos um pouco sobre essa brincadeira do seu fandom à respeito dos barcos, por favor.

ICE: Os barcos, certo! Bem, desde que Steve e eu estamos escrevendo em um mundo que é pré-industrial, a melhor maneira de viajar é, naturalmente, de barco. Portanto, acontece que temos um monte de viagens de barco em nossas novelas. Os artistas de capa optando por retratar eles para minhas capas – talvez com muita frequencia! Pessoalmente, eu amo barcos e viagens marinhas, então eu não tenho problema com isso.

PZ: Está trabalhando em algum livro no momento?

ICE: Sim, eu estou atualmente terminando o segundo romance da série Caminho para Ascenção, que é o conto de como o Império de Malazan surgiu. Novamente, como no Lamento do Dançarino, os personagens principais serão o Imperador e o Dançarino.

PZ: Quais autores e livros inspiraram você e Steven para criar Malazan?

ICE: Hmm, bem, eu lia vorazmente fantasia e ficção científica quando jovem. Todos esses autores poderiam ser citados como inspiração para Steve e eu (como lemos muitos dos mesmos autores). Como acima, eu mencionei Robert E. Howard, Fritz Leiber, Michael Moorcock, Tim Powers, Tolkien (é claro), Duna de Frank Herbert, e a série Kane de Karl Edward Wagner. Esses são apenas os principais autores de fantasia – Devo dizer também que eu também fui inspirado por Robert Luis Stevenson, H. Rider Haggard, Kipling e Conrad, etc. No entanto, para nossa série Malaz, Steve e eu tmos sido muito abertos sobre citar Glen Cook como uma influência imediata.

PZ: Ok, sabemos os autores que lhe influenciaram. Mas, além destes, existe algum autor ou livro que você classificaria como seus favoritos?

ICE: Veja os acima. No entanto, para mais escritores contemporâneos, acho que eu gostaria de acrescentar Iain M. Banks e Neal Stephenson.

PZ: Muito obrigado pela entrevista, Ian. Gostaria de deixar uma ultima mensagem para seus fãs brasileiros, e também novos fãs?

ICE: Acho que eu gostaria de agradecer a todos por estarem dispostos a explorar um novo mundo, e conceder uma chance a um novo autor. Bem-vindo a todos!

Seu, Ian C. Esslemont