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True Detective | Começou a segunda temporada…

Dia 21 de junho, um domingo, marcou a estreia da segunda temporada de True Degtective , uma das séries mais elogiadas por crítica e público dos últimos tempos. A despeito de todos os medos e receios por conta do grau de excelência apresentado pela temporada anterior de True Detective (veja nosso especial AQUI), acho que esses medos e receios, bem como as comparações, já podem ser empurrados para escanteio.

“12 anos, o meu rabo. Vai se foder.”
(Ray Velcoro)

O texto de Nic Pizzolatto, criador da série e que escreve todos os episódios desta e da temporada anterior, mantém-se extremamente competente. Cheio de camadas de significado e subtextos, o material desta nova temporada continua soturno, pesado, denso e cheio daquela sensação de vazio, abandono e decomposição social. Ao invés de por sua narrativa sobre narrativas nos ombros de uma dupla, o que temos na nova temporada é um trio de detetives em diferentes localidades que terão de trabalhar em cooperação para solucionar um estranho assassinato envolvendo instâncias da administração pública da cidade de Vinci, centro de onde partirá a construção de um complexo viário cujos procedimentos de gestão se mostram extremamente corruptos e super-faturados.

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Criada para ser executada na forma de antologias, ou seja, cada temporada tem seu próprio elenco, seu próprio roteiro e premissas, mantendo em comum apenas alguns pontos que, neste caso, são os detetives do título do programa em situações adversas que exigem seu potencial máximo na execução de suas funções como investigadores e solucionadores de situações pouco convencionais.

Como dito acima, agora a missão está nas mãos de um grupo disperso que tem de coordenar a investigação do desaparecimento e consequente assassinato de Ben Caspere, gestor financeiro da cidade de Vince. O desaparecimento de Caspere se dá justamente na ocasião que Osip Agronov (Timothy V. Murphy), representante de investidores russos, aporta na cidade para fechar o contrato que colocará em funcionamento um grande complexo viário administrado por um conglomerado multinacional, empresários locais e a prefeitura da cidade, tudo regado a champanhe e vinho em um grande evento realizado nas instalações do cassino de Frank Semyon (Vince Vaughn), um dos articuladores da operação e envolvido com as operações de super-faturamento da obra.

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Os verdadeiros detetives

O primeiro episódio desta temporada, além de mostrar as questões do desaparecimento de Caspere, tem por objetivo já de saída ir apresentando aos espectadores os detetives da vez: Raymond “Ray” Velcoro (Colin Farrell), Ani Bezzerides (Rachel McAdams) e o patrulheiro rodoviário Paul Woodrugh (Taylor Kitsch).

Raymond “Ray” Velcoro (Colin Farrell) – Destacado para investigar o desaparecimento de Caspere e silenciar a impressa que vem noticiando os altos índices de corrupção na administração da cidade de Vinci, Ray Velcoro é o típico detetive que, em algum momento no tempo deu um passo errado e depois disso sua vida toda passa a ser uma eterna queda para o centro de seu abismo moral e ético.

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Fisicamente violento e psicologivamente instável, Velcoro realiza trabalhos “por baixo dos panos” para Semyon ocultando provas, chantageando pessoas, espancando-as quando necessário… Ao “vender sua alma” para Semyon, Velcoro afundou uma carreira que parecia promissora em troca de vingança…

Vindo de um casamento falido e convivendo com o fantasma de que seu único filho, Chad, possa ser fruto do estupro sofrido por sua esposa há anos atrás, Velcoro move uma ação para ampliar seu tempo de guarda compartilhada de Chad, cuja estrutura física e psicológica é inversa a de seu pai: tímido, introvertido, vítima de bullyng no ambiente escolar…

Ani Bezzerides (Rachel McAdams) – A detetive Ani Bezzerides vem enfrentando outros tipos de problemas familiares: a irmã, Athena Bezzerides, é ex-viciada, atriz porno amadora e o pai,  Eliot Bezzerides (David Morse) é um tipo de conselheiro espiritual/pregador/messias filosófico em um centro de estudos/instituto. Segundo seu pai, tudo que Ani fez e realiza é um eterno processo de ir contra toda e qualquer autoridade e escolha realizada por seu pai após o suicídio da esposa e mãe das duas moças.

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Especialista em lâminas, Ani tem um comportamento destrutivo similar ao de Velcoro, no entanto parece haver na personagem um senso de preservação maior por ser justamente uma mulher dentro de uma profissão historicamente masculina e fisicamente perigosa… talvez venha daí a necessidade das duas lâminas escondidas na bota e na fivela de seu cinturão.

Paul Woodrugh (Taylor Kitsch) –  Oficial da patrulha rodoviária Woodrugh é suspenso por uma denuncia que aparentemente poderia causar publicidade envolvendo uma atriz em condicional que oferece sexo oral em troca de não ser multada por excesso de velocidade e outras falhas de trânsito.

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Apaixonado pelas estradas e pela velocidade, Woodrugh completa o trio de policiais cuja a veia autodestrutiva pulsa forte. Com estranhas cicatrizes pelo corpo, o policial rodoviário já foi ex-militar e toma Viagra par manter relações sexuais com sua linda e escultural namorada. Também sai no meio da noite para correr em altíssima velocidade pelas rodovias em sua moto na quase total escuridão das mesmas…

True Detective | Os reflexos do mundo

Os três detetives desta temporada tem algo em comum: o senso de autodestruição, de mutilamento psicológico, desestruturação emocional e agressividade ora reprimida, ora externalisada. De certo modo esse tem sido um dos pontos recorrentes na narrativa de Pizzolatto na temporada anterior, pois tanto Cohle quanto Hart eram extremamente nocivos consigo mesmos e para com o ambiente ao seu redor.

Outro ponto notadamente recorrente nesta nova situação diz respeito ao ambiente social, sempre cheio de personagens excluídos, marginalizados pelo sistema e pelo mundo. A corrupção os grandes escalões de poder e administração estão também mais um vez abordados pela narrativa. Ao escolher cidades pequenas e fora dos grandes centros populacionais dos EUA, Pizzolatto parece gostar da sensação de abando, de deterioração e ação corrosiva do tempo e mais uma vez as locações e cenários são também “personagens” da trama em curso, refletindo ao espectador todo o estado de espírito das pessoas envolvidas pela teia de um crime macabro.

Ainda não está claro, mas aparentemente o tom ocultista e de crime ritualístico está mais uma vez presente, no entanto o tom de sexualidade tanto reprimida quando exposta está bastante presente e forte na condução narrativa, tanto nos protagonistas em diferentes escalas, mas sobretudo na residência de Ben Caspere e suas esculturas e símbolos fálicos, quadros e pinturas de mulheres retorcidas, seios expostos e brinquedinhos que fariam muito sex shop ter vergonha de seu estoque amador…

Pode ser que um episódio ainda seja cedo para traçar quaisquer conclusões, mas a impressão que este primeiro episódio me deixou foi extremamente positiva, sendo que ficou com Ray Velcoro a estrelinha de “bom menino” da semana. Claro que a temporada como um todo vai ser delineada episódio por episódio, afinal é isso que é uma série, mas esta segunda temporada já iniciou de forma extremamente interessante.

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Aguardo ansioso os próximos episódios da temporada, com a certeza de que o texto de Pizzolatto e todas as suas camadas de significado, aliado a um elenco de atores cuja trabalho está sendo desafiado, só tende a render bons frutos sob uma direção competente e uma fotografia mais uma vez belíssima.

A tônica mais uma vez vai ser a de pessoas diferentes tendo de sintonizar seus pontos discordantes, personalidades e modus operandi para resolver um crime envolvendo instâncias bem maiores e interesses bem mais ocultos. A dinâmica dos detetives tendo de se empenhar para resolver o caso em questão, assim como a temporada anterior, com absoluta certeza esbarra na vida pessoal destes protagonistas e de seus amigos, parentes e familiares, mostrando mais uma vez que não há como impedir que aqueles que amamos sejam tocados pelo mal que cerca estes detetives ao assumirem a responsabilidade em solucionar este crime.

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Os fluxos de idas e vindas no tempo, outra característica da antologia anterior já dá sinais de manifestação no começo desta nova situação e com absoluta certeza teremos mais vislumbres de momentos do passado dos personagens ao longo do desenvolvimento narrativo, mostrando motivações e segredos que tornaram esses personagens quem eles são pelo texto de Pizzolatto e pela direção de Justin Lin.

Então, temos tudo já arquitetado e construído para ir se entrelaçando cada vez mais, exatamente como a malha viária que está em muitos dos encartes e cartazes de divulgação da atração… as estradas das vidas dessas pessoas está se cruzando, se emaranhando, se engarrafando e fatalmente se chocando de forma trágica.

Ah, claro… True Detective sem uma abertura espetacular e uma trilha sonora perturbadora não seria True Detective. Outro ponto positivíssimo para a nova temporada.

[divider]DADOS NO IMDB[/divider]

The Western Book of the Dead (2015)
The Western Book of the Dead poster Rating: 8.1/10 (8740 votes)
Director: Justin Lin
Writer: Nic Pizzolatto (created by), Nic Pizzolatto
Stars: Colin Farrell, Rachel McAdams, Taylor Kitsch, Kelly Reilly
Runtime: 60 min
Rated: TV-MA
Genre: Crime, Drama, Mystery
Released: 21 Jun 2015
Plot: A bizarre murder brings together three police officers and a career criminal in the corrupt city of Vinci, California.

[divider]ELENCO[/divider]

  • Colin Farrell: Detetive Ray Velcoro
  • Rachel McAdams: Detetive Ani Bezzerides
  • Taylor Kitsch: Oficial da patrulha rodoviária Paul Woodrugh
  • Kelly Reilly: Jordan Semyon
  • Vince Vaughn: Frank Semyon
  • Ritchie Coster: Prefeito Austin Chessani
  • David Morse: Eliot Bezzerides
  • Christopher James Baker: Blake Churchman
  • Chris Kerson: Detetive Nails
  • Timothy V. Murphy: Osip Agronov
  • Leven Rambin: Athena Bezzerides
  • Trevor Larcom: Chad Velcoro-Brune

 

Sobre o Autor

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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.

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