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Quarto filme dos Transformers é constatação: Michael Bay extinguiu sua criatividade

Há milhões de anos atrás a guerra civil entre Autobots e Decepticons colocou o planeta Cybertron praticamente sem recursos e energia. Em busca de novas fontes e recursos, a espaçonave Arca parte com um grupo de Autobots liderados por Optimus Prime, em seu encalço vinha a Nemesis, sob o pesado comando de Megatron, o líder da facção rival. No confronto espacial as duas naves aõ gravemente danificadas e ambas acabam se perdendo em nosso sistema solar e depois se chocando com nosso mundo ainda em seus primórdios… Começou assim um dos desenhos que mais arregimentou fãs entre a garotada de meados da década de 1980.

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[dropcap size=big]B[/dropcap]asicamente Transformers foi um desenho criado para vender os carrinhos que se transformavam em robôs da Hasbro, apesar da premissa simples, havia ali naquele monte de robôs quadradões se estapeando algo a mais… More than meets the Eye… havia alma naquele desenho e naqueles personagens. O antagonismo entre Optimus e Megatron era espetacular e havia tramas e planos mirabolantes para drenar os recursos de nosso mundo para recuperar o quase moribundo planeta dos formers, o desenho estava à frente de seu tempo e já discutia as questões ambientais com a molecada. Até um longa-metragem foi feito para a transição de temporada da franquia que ao longo dos anos seguintes ganhou infinitas versões e upgrades visuais.

Em 2007 chegava aos cinemas de todo o mundo a primeira adaptação live action (hein?) baseada no desenho oitentista. O sonho de muito marmanjo que era moleque quando o desenho passava na tv ia se realizar e os robôs finalmente ganhariam um visual atualizado mais real devido aos avanços da indústria dos efeitos especiais. Michael Bay foi o encarregado de ficar atrás das câmeras e Steven Spilberg na produção. A dupla fez quase tudo certo, o filme tinha suas falhas (qual não tem?), mas tinha um tanto da alma dos desenhos oitentistas, seu humor, um pouco de sua inocência e claro, sua ação centrada nos confrontos entre as duas facções cybertronianas. Aqui e ali rolava a tensão e o mistério da presença dos robôs em nosso mundo e a cooperação entre eles e parte do governo americano para proteger o Cubo, umas das grandes fontes de vida e poder dos cybertronianos na mitologia criada para os cinemas… Bay fazia sua própria mitologia nascer com seu filme.

June 20th, 2014 @ 02:40:02

Não era perfeito, mas era divertido, tinha seus ótimos momentos, situações de tensão, muita ação e claro, o espetáculo visual que era cada robô entrando em ação com seus milhões de pedacinhos se movendo o tempo todo… mas o tempo não foi generoso com a franquia dirigida por Bay, em algum momento no meio do caminho o diretor e sua trupe acharam por bem pegar tudo que havia de ruim no primeiro filme e potencializar ao máximo isso de um lado e pegar tudo de bom e minimizar por outro. Resultado? Se tinha robô “urinando” no primeiro filme, no segundo tinha um robô gigante escalando uma pirâmide e balançando seus “testículos” para o espectador… se no primeiro filme o agente Simons ficava de ceroulas, no segundo filme o personagem aparecia com uma tanguinha atolada no rabo… se no primeiro filme você tinha os pais do Sam o colocando em situações adolescentes vexatórias, no segundo filme você tinha a mãe do personagem fumando maconha no campus universitário… se você tinha em média 10 a 12 robôs entre bons e maus, no segundo filme eram mais de 40…

O terceiro filme tentou reparar o estrago, mas já era tarde e os vícios de Bay continuavam todos ali, inclusive o fato de que mesmo depois de três filmes, seu protagonista, o detestável Sam Witwicky (Shia Labeouf) não deu um passo sequer no processo evolutivo de um protagonista que passou por tudo que ele passou… começou um otário, terminou um otário maior ainda… Ah claro, tem toda aquele lambeção de saco com o exército americano, a tara maior de Michael Bay… Não havia mais alma, nenhum Transformer tinha importância na trilogia, a maioria aparecia e sumia sem ter desenvolvimento, personalidade ou função específica na obra, Bay não respeitava nada, nada do cânone ou da mitologia criada ao longo dos anos seria realmente utilizado e o diretor e sua trupe não respeitaram nem o que estavam criando desde o primeiro filme… fica ao final da trilogia a nítida sensação que ninguém ali sabia o que estava fazendo, pois nem o pretexto de filmar boas cenas de ação foi cumprido a contento no saldo geral… tinha mais cena com pôr do Sol ao fundo e de homens fardados com a bandeira americana em punho do que robôs em combate.

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E aqui estamos nós, num quarto filme que é misto de reinício e continuação (coisas do Bay, pessoal), cai fora toda aquela gente chata e repetida exaustivamente em três filmes e que nunca se desenvolveu, entra elenco novo encabeçado por Mark Wahlberg como o inventor-engenheiro Cade Yager. E não é que o negócio começa bem, um ritmo legal, bem encadeado, leve e divertido como era lá no primeiro filme. Cade encontra Optimus praticamente como uma sucata e o leva para casa para chamar de “seu”. Tudo isso se passando cinco anos após os acontecimentos do terceiro filme que culminou com a quase total destruição de Chicago (particularmente achei um hiato muito pequeno para as coisas estarem no patamar do quarto filme, acredito que o tempo mínimo seria de uns 10 a 15 anos do terceiro para o quarto filme); agora os Transformers são caçados e exterminados por humanos, o jogo mudou e não há mais espaço para os robôs em nosso mundo, sejam Autobots ou Decepticons.

Caçados também pelo transformer Lockdown, os poucos robôs em nosso mundo são exterminados e suas peças usadas para fazer engenharia reversa e é Lockdown que está agora no encalço de Optimus Prime e, consequentemente da família de Cade, ameaçada pelos agentes do governo aliados ao transformer caçador de recompensas. Se isso por si só não fosse suficiente para se fazer um filme, Bay e sua trupe atolam uns fiapos de subtramas envolvendo o Transfórmio, metal do qual os cybertronianos são constituídos, a criação de Galvatron, algum lance ali com a China, um acordo entre o dono da companhia que pesquisa o metal alienígena e o cara mau da CIA e outras coisas genéricas para dar aquela “importância” ao núcleo humano do filme… ah, tem alguma coisa ali em algum lugar sobre a filha de Cade e o namorado genérico dele…

Transformers-_MW-cadeFalando em genéricos, o novo grupo de transformers de Optimus Prime ficou do mesmo jeito… 5 integrantes praticamente similares a formação original lá do primeiro filme, só que com outros nomes para vender bonequinhos novos, afinal essa sempre foi a tônica da franquia. Os três novatos são apenas número mesmo, não acrecetam nada de realmente significante ao desenvolvimento da obra e de sua narrativa, até porque as cenas decisivas sempre estão a cargo ou de Optimus ou de Bumblebee desde o primeiro filme.

Bay e seus “roteiristas” ainda tem a cara de pau de fazer um dos formers soltar a pérola “estamos juntos novamente”… calma, mas esses caras apareceram só agora, onde eles estavam durante O lado oculto da Lua e toda a bagunça com o Sentinela Prime? E toda a trupe desse filme some… consta para nós apenas um dos Wreckers sendo feito em pedaços…

Do momento em que Galvatron entre em cena até a captura de Prime por Lockdown, o negócio é legal mesmo no meio das muitas falhas, mas depois disso todo o núcleo humano do filme entra em cena e parece que Bay insere um filme dentro de outro filme sem que haja coisa minimamente interessante na infiltração do cruzador de Lockdown e de sua posterior fuga.

Piora ainda mais quando temos de aturar um “gênio popstar” fugindo de agentes da CIA no meio da bagunça chinesa enquanto uma moça de terninho o auxilia no processo todo… em tem o Cade acertando contas com seu antagonista que apontou uma arma para a cabeça de sua filha… sabe como é, tem de dar ênfase no mocinho. E lá se foi tempo de filme jogado no lixo, só servindo para aumentar o tempo da película para quase três horas de duração.

O que era a tão esperada cereja do bolo, os Dinobots, é algo ali no final em torno de uns 15 a 20 minutos em tela e só… aquele básico para adicionar doses mastodônticas de “massaveismo” ao estilo Bay… eles chegam, cospem fogo, mordem robôs genéricos controlados por Galvatron e é isso… param ali numa ponte e dizem que vão bloqueá-la de alguém que eu particularmente devo ter esquecido quem era, pois a avalanche dos Dinobots varreu todo mundo do mapa. Sem esquecer que é bem difícil poder ver os dinos e seus detalhes claramente e o pouco que se pode ver ficou bem abaixo das expectativas, a equipe de projeto visual da franquia já fez coisa melhor antes e ficou devendo muito dessa vez.

O confronto final… puff… Bay só pode estar zuando com a cara até mesmo de quem é fã de seu trabalho… mais uma vez aquela maldita câmera quase rente ao chão filmado entulho, pedaço de parede e qualquer coisa do tipo, menos filmando a ação e o combate entre os robôs. O primeiro plano da câmera de Bay é sempre outra coisa, mas nunca a ação principal, sobretudo se são cenas de confronto direto entre os robôs… E isso é um pecado para um diretor que é amplamente associado ao cinema de ação… ah, toma-lhe repeteco de tudo que o diretor já havia feito antes, com direito a caminhão de reboque e tudo.

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A conclusão deste quarto filme é de longe uma das piores que o diretor já fez, depois de um confronto final previsível, depois de repetir praticamente boa parte do que fez nos filmes anteriores, Bay encerra tudo deixando um gancho bem escroto no filme que deveria injetar um novo gás aos Transformers… fica tudo ali, meio “nhé”, sem graça e com um abraço estúpido como consolação a uma das pessoas responsáveis por boa parte da merda toda que estava acontecendo.

Ok, não tinha lá muito o que esperar mesmo desse quarto filme, em nosso preview (AQUI), já deixei claro que esperava mais do mesmo, mas admito que me empolguei com a primeira metade do filme, Lockdown é estiloso, Mark é um bom ator e injeta um novo ânimo na relação dos robôs com os humanos, mesmo dando uns repetecos no que Sam já havia feito nos filmes anteriores… Agora ficou ruim de doer o lance com o Transformio e seu processo de origem, pois são fatos que batem diretamente contra o que Bay havia estabelecido em A vingança dos Derrotados, posso até estar enganado, mas a existência do Fallen e dos Primes mostrados nesse filme é praticamente excludente ao processo mostrado no início deste quarto filme… mas ok, reparei nisso porque tenho apreço pelo processo narrativo de forma geral, mas Bay desconhece quase que por completo o que vem a ser isso.

De resto realmente não tinha mesmo muito o que esperar, mas às vezes a gente quer acreditar que a coisa toda pode engrenar… mas em se tratando de Bay, seu material é uma máquina de fazer dinheiro e o diretor sabe disso e pouco meche em time que está ganhando. O que não exime Michael Bay do fato de ser um cara que não respeita nem seu próprio material, imagine então respeitar uma franquia derivada de um desenho animado feito para vender robozinhos? E respeitar seu espectador então nem pensar…

Saldo final? Bay não tem alma, seus Bayformers não tem alma, seus filmes dos Bayformers são isso: explosões, ação frenética, alguns robôs, alguns traços de narrativa e humanos, muitos humanos fazendo coisas desinteressantes… Quase três horas de filme e pífios 20 minutos de Dinobots, Michael Bay? Tá de sacanagem com a galera da G1…

Transformers: Age of Extinction (2014)
Transformers: Age of Extinction poster Rating: 5.8/10 (217,924 votes)
Director: Michael Bay
Writer: Ehren Kruger
Stars: Mark Wahlberg, Stanley Tucci, Kelsey Grammer, Nicola Peltz
Runtime: 165 min
Rated: PG-13
Genre: Action, Adventure, Sci-Fi
Released: 27 Jun 2014
Plot: Autobots must escape sight from a bounty hunter who has taken control of the human serendipity: Unexpectedly, Optimus Prime and his remaining gang turn to a mechanic (Mark Wahlberg), his daughter (Nicola Peltz), and her back street racing boyfriend (Jack Reynor) for help.

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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.

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