Superman: o Homem de Aço de volta aos cinemas

Dando continuidade aos nossos especias em homenagem aos 75 anos do Superman. O texto a seguir não é uma crítica cinematográfica e contém spoilers a respeito do filme.

Henry Cavill como Superman/Kal-El/Clark Kent
Henry Cavill como Superman/Kal-El/Clark Kent

2013 marca os 75 anos do Superman, o primeiro herói das HQs, inclusive o grande fundador do gênero, uma vez que até então o que se tinha eram compilações de tiras de jornal.

Bom, dito isto é o ano que marca também o retorno do azulão para o cinema com Homem de Aço (Man of Steel), filme que reapresenta a origem do personagem para o grande público sob a direção de Zack Snyder que tem no portifólio “Madrugada dos Mortos”, “Watchmen”, “A lenda dos guardiões”, “Sucher Punch” e “300 de Esparta.

Man_of_Steel(filme)Com certeza não é o filme que vai mudar os rumos da estética cinematográfica do século XXI, mas não há como negar que dentro do gênero de adaptações de Hqs é um filme acima da média, principalmente quando comparado com quase tudo que sai hoje em termos de cinema comercial.

A começar por escolhas estéticas no que se refere ao visual da adaptação, tendo na sequência inicial em Krypton um show visual e conceitual espetacular.

Dos trajes, armas, cenários de fundo passando por naves e tecnologia em geral, tudo no planeta Krypton no filme de Snyder lembra a clássica série “O mundo de Krypton” do veterano John Byrne na ocasião das reformulações após Crise nas Infinitas Terras.

Alento e gancho para os fãs da fase pós-Crise quando Byrne ficou encarregado de reeinventar o personagem para novos tempos… coincidências a parte, mesma tarefa do filme.

O próprio vocabulário remete a conceitos canônicos da mitologia do personagem ao logo dos seus 75. Está lá a zona fantasma e todo um princípio tecnológico baseado neste conceito ao lado das câmaras de clonagem, o conselho planetário e os robôs auxiliares.

Dito isto é preciso pensar este filme em termos mercadológicos. Primeiro ponto, é um filme dentro de uma linha de estúdio, a Warner Bros, que já veio da trilogia Batman bem marcada por um tom sério, sombrio e diferente do que fazem as outras pontas desse mercado: Sony (Homem Aranha), Fox (X-men e Quarteto) e por fim o mais estável e concreto atualmente, o Marvel Studios com seu elenco estelar de Vingadores.

Superman é um produto que carrega uma identidade construída para ser exatamente oposto ao que os outros estúdios estão fazendo, afinal, é uma concorrência e para tal, segue uma linha bem definida pautada pela ótica de Chistropher Nolan como consultor, não à toa as comparações com a trilogia Batman são facílimas.

O tom é denso, a trilha sonora é densa, as imagens são fortes, os personagens são fortes e esculpidos no ideal estético clássico, a ação é vertiginosa e o ritmo é o do século XXI, temos um misto de força, beleza e tecnologia.

Praticamente tudo está lá em relação ao que o grande público já conhece: Krypton, a fazenda no Kansas, Lois Lane, Planeta Diáro, Zod, “S” vermelho no peito, a influência da herança genética de Jor-El, a criação de homem do campo dada por Jonathan Kent, a responsabilidade de seus dons e as consequências disso.

Tiradas as alterações de ordem autoral e sim, elas são necessárias, o novo Superman reflete tranquilamente os ecos do personagem de hqs mais conhecido no mundo todo.

Jor-El e Zod
Jor-El em Zod, a amizade e respeito entre eles é insinuada no filme, mas suas ideias os colocam em lados opostos

As alterações feitas na origem, apesar de algum desconforto para os puristas, a meu ver não afetam em nada a premissa básica do sobrevivente que parte de seu mundo condenado para um planeta distante.

No ato em Krypton o deleite visual divide espaço com o talento gigantesco de Russell Crowe como o cientista Jor-El e em Michael Shannon como general Zod, um dos maiores nêmesis do homem de aço e, sem dúvida alguma, a melhor escolha para o vilão deste filme.

Primeiro pelo nível de poder que há em se ter um personagem como Superman na tela, segundo porque Zod, como um dos kryptonianos com destino marcado, tem um senso de moral deturpado e, por isso mesmo diametralmente oposto do Superman… resultado? Um embate físico e ideológico espetacular no confronto decisivo entre eles.

Capas da série
Capas da série “Mundo de Krypton”

Tanto Crowe quanto Shannon demonstram durante todo o filme que estão bem à vontade em seus respectivos papéis, emprestando expressões faciais e tons de voz de diversos matizes, Jor-El nos tons mais brandos e serenos característicos de um home da ciência e ainda assim enérgico e vigoroso quando necessário, do outro lado Zod nos tons de uma fúria e um ódio incontroláveis, estes, típicos dos homens de combate e guerra, beirando o surto mesmo.

Confesso ter criado um apreço enorme por esta primeira etapa do filme Krypton (vocês já devem ter notado), pois como fã de sci-fi vi ali uma interpretação visual belíssima, renovada e ao mesmo tempo inspirada no material já mencionado da série “O mundo de Krypton”. Parte da missão de recriar o universo do personagem já se concretiza facilmente aí.

Ao final da vida de Krypton a escolha narrativa do filme é alternar entre nos mostrar o presente de Kal-El já como o adulto Clark Kent vagando por aí em busca de algo ou alguma pista sobre sua origem alienígena, do outro lado nos vai sendo desnudado de forma alinear as situações e momentos-chave para a formação do ser que, futuramente encarnará o símbolo, o conceito e o mito do super-homem e do super-herói. outra boa escolha a meu ver ter os flashbacks diluídos no meio da narrativa.

Achei uma escolha perfeita essa linha de flashbacks, dando em muitos casos ao espectador a chance de montar em sua cabeça a sequência cronológica de cada um e de que modo esses pontos no tempo foram essenciais para construir os primeiros andares no edifício do Superman.

Outro ponto positivo é a câmera subjetiva dos momentos no passado, dando-lhes um aspecto bem intimista, de aproximação e contemplatividade, aproximando assim o espectador dos personagens nestas ocasiões de base. Como referência me veio de imediato o estilo do cineasta Terrence Malick, já evidente desde os primeiros trailers do filme.

Jonathan, a segunda figura paterna, e Clark nos momentos difíceis em Smallville, Kansas
Jonathan, a segunda figura paterna, e Clark nos momentos difíceis em Smallville, Kansas. Inclusive a cena da revelação do foguete kryptoniano remete fortemente ao arco “Origem Secreta” escrito por Geoff Johns

E já que estamos falando de edifícios, “Homem de Aço” é um filme de construção, de caminho, é um filme até certo ponto bem objetivo, já que bebe direto na fonta da jornada do herói tão bem conhecida dos apreciadores do trabalho de Joseph Campbell (não conhece? pois é, deveria).

O herói não está pronto ainda, não está preparado ainda, é o caminho, é a jornada, é o trajeto que o fará se transformar. Aos desavisados, o Superman de Henry Cavill é assim como o herói clássico quando recebe o chamado à jornada: inseguro, com dúvidas a respeito de suas capacidades para executar a jornada para qual foi escolhido, é cheio de anseios e em busca de si mesmo e a m,eu ver, Cavill consegue com facilidade transmitir isso em diversos momentos.

Aqueles que esperaram ver o mito, o altruísmo encarnado, a sensatez e prudência da perfeição do salvador estão se remoendo até agora sem perceber que, como dito acima, este filme é um filme de construção, é o caminho que vai levar este ser imperfeito e cheio de dúvidas a se tornar um exemplo e um símbolo para nós… quando chegar a hora, diz Jor-El, estaremos com ele ao Sol, mas para isso ele ainda vai trilhar o caminho necessário para se transformar no Superman mítico e simbólico que tanto se procura.

A icônica capa de Action Comics 1, o começo da era de Outro das HQs
A icônica capa de Action Comics 1, o começo da era de Outro das HQs

O texto do filme é claro, ao menos me parece bem claro, pois se retornarmos ao primeiro número de Action Comics 1 (AC1) em 1938, o personagem era forte, impetuoso, quase imprudente e até mesmo arrogante perante o estado e o contexto de criminalidade que combatia, muitas das vezes ficando até sugerido a perda de vidas em suas ações, mesmo isso não sendo explicitamente revelado. Não à toa, Grant Morrison resgate esta faceta do personagem em sua versão pós-reboot de Action Comics 1, mostrando um Superman jovem, arrogante, imprudente e ainda sem a totalidade de seus poderes… mas Morrison é um profundo conhecedor da história das HQs e claro, da origem do Superman.

É exatamente essa viceralidade inicial de AC1, tanto a original quanto a de Morrison, que se materializam no filme de Zack Snyder, com um Clark meio inseguro e um Superman meio imprudente e em fase de aprendizado, ainda longe do auge de sua força e poder, não à toa nos é mostrado seu primeiro e falho voo e as tentativas seguintes até o rompimento da barreira do som.

Repito, este não é o filme do mito, do símbolo, do ideal de perfeição do super-herói, é um filme de construção e aperfeiçoamento, de auto-conhecimento e descoberta do seu real potencial.

Mais uma vez, aos desavisados, o que a Warner fez foi parear a versão do cinema com o material do reboot na cronologia da Dc Comics, ou seja, o Superman de agoa é o do pós-reboot, inclusive no traje que deixa a cueca em seu devido lugar: por baixo da calça.

Vale lembrar mais uma vez das questões mercadológicas e das identidades de cada estúdio. “Homem de Aço” é para o Superman, em grande medida, exatamente o que “Batman Begins” é para o homem-morcego, por exemplo.

Não é a lenda urbana do Batman em seu auge e perfeição, é Bruce Wayne em busca de si mesmo e, ao longo do caminho, encontrando o Batman que tanto anseia e que na verdade é sua real necessidade. Resumo: filme de construção, não de completude.

Para tanto Kal-El tem de um lado Zod, do outro Jonathan Kent (Kevin Costner não é meu ator predileto de longa data, mas vai ser por longo tempo minha referência do velho Kent), cada um lhe dando valores e direções a seguir, mas também libertando-o e dando-lhe o seu maior direito: escolher, já que, sendo um kryptoniano concebido de forma natural, Kal-El não é preso pelas amarras deterministas dos processos de clonagem de seu planeta de origem.

E voltamos mais uma vez ao trabalho de Byrne em “O mundo de Krypton” e sua sociedade fria e desprovida do toque físico.

As figuras masculinas são a maior influência na vida do personagem, não só os pais, mas o próprio Zod como um reflexo distorcido mostra escolhas a serem feitas e não feitas, mas por outro lado o poder feminino o guia para uma direção que não é a do poder patriarcal e o da força, a relação de Clark com Martha Kent é de amparo e fuga, não por menos que os braços da mãe são o local para o qual o personagem retorna quando descobre mais sobre sua origem das estrelas. É a ela e nela que reside o primeiro elo com a raça humana, uma vez que Lara, sua mãe biológica, não teve a oportunidade do alento materno para com seu filho.

O casal Kent, versão filme e versão Hq
O casal Kent, versão filme e versão Hq

Mas é na relação com Lois Lane que se descobre o amor, a sensualidade, a atração, o desejo e elo para se conectar definitivamente com os seres humanos, se ainda faltava alguma razão para não encher a Terra de novos kryptonianos, essa decisão reside na relação do Superman com Lois, pois ele pode prezar qualquer vida humana, mas a dela é inestimável.

Ok, são os momentos iniciais entre eles e o filme precisa apressar as coisas, torná-las mais intensas diante do espectador. É um filme gente, tem coisa que precisa ser feito às presas mesmo nas obras mais bem acabadas, não adianta chorar nem reclamar, não dá para fazer um filme de 4 horas de duração apenas para aprofundar o romance entre dois personagens ou eliminar qualquer falha de roteiro ou corte de edição, mesmo que seja em relação aos dois protagonistas.

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Lois Lane, o eterno par romântico

Há, claro, excessos no que se refere a participação de Lois Lane em momentos cruciais do filme, com ocasiões em que qualquer ser humano deveria estar a milhas de distância de tudo que estava acontecendo ao seu redor. É a Lois, mas também não precisa colocá-la sentada em uma bomba nuclear de cinco em cinco minutos para sabermos que ela é uma personagem importante. Forçaram a nossa amizade com a moça. Linda, por sinal.

Bom, mas voltando ao que interessa. O que é diálogo e entendimento com relação ao aspecto humano, é puro confronto e embate quando se trata dos kryptonianos, entre eles e o Superman, e aqui o trato como um outro ser diferente tanto de kryptoniano quanto de humano, já que ainda pesam sobre ele as dúvidas e incertezas.

O que Zod quer é o mesmo que Jor-El, ou seja, recriar Krypton na Terra, só que sem a mediação de Kal-El e as lições aprendidas com os pais adotivos, e isso não é ponto pacífico para o Superman, nem é plausível de negociação com o general, nascido e criado para guerrear em prol de seu mundo e sua raça. Não só ele, mas seus asseclas também.

Não há diálogo nem negociação quando o colonizador, mas avançado e, sobre seus próprios olhos, mais evoluído, quer subjulgar o colonizado, inferior, fraco e primitivo. Um subtexto bem evidente ao longo do filme todo, inclusive nas ocasiões em que o jovem Clark é rejeitado ou hostilizado por seus colegas de escola (Jerry Sigel e Joe Shuster se materializando conceitualmente no filme de Snyder).

Ah. Faora... a vida em Krypton tinha seus atrativos, hein...
Ah, Faora… a vida em Krypton tinha seus atrativos, hein…

Diante do impasse, sem diálogo, o que fazem os super-seres? Ora, vão para o confronto direto. Os deuses já faziam isso no Olimpo, isso é feito mês a mês nas Hqs desde 1938, então meu amigo, não vai ser dessa vez que vão economizar nos socos e na destruição. E confesso, não esperava menos do que foi feito neste filme.

O primeiro embate entre Superman, Faora (criatura linda essa Antje Traue que nasceu para esse papel) e o kryptoniano de quase 3 metros de altura. Uma verdadeira luta de titãs, sem precedentes até então no cinema baseado em Hqs, é visceral, é destruidor, é épico e de proporções realmente associadas a de deuses medindo forças entre os mortais, uma vez que a presença do exército atacando o trio é insignificante para eles.

Há os puristas que esperavam o salvamento da população de Smallvile um a um e que nenhum prédio ou construção fosse derrubada, mas três super-seres daquele nível de poder seria de uma babaquice tremenda parar toda a luta para tirar gato de árvore e ajudar velhinha a atravessar a rua, convenhamos, não tem muito tom para essas cobranças e choradeiras, estamos no meio de uma embate de deuses.

Repito, se fosse menos do que isso eu ficaria desapontado. Até porque os combates são também de ordem ideológica, enquanto o Superman é atado por seus preceitos e códigos morais, os guerreiros kryptonianos não possuem nenhum tipo de filtro, ligação ou barreira emocional com nada além de sua missão kryptoniana, avisa a própria Faora antes de se revelar uma guerreira perigosíssima.

Reforço, todo o caos do embate e da destruição é comum, corriqueiro e banal nas hqs, não sei qual o motivo do estranhamento dos fãs e puristas quanto a isso, acho que tem gente lendo pouca Hq nos últimos 20 anos.

E falando nos últimos 20 anos, obviamente não poderiam perder também a chance de reforçar pesada claramente todas as analogias com a figura messiânica e do salvador que surgiram nas últimas décadas: 33 anos, posição de cruz por sobre o céu da Terra, o celeiro como representação da manjedoura, a voz do pai guiando seu filho e lhe lembrando de seu lugar como guia, sua força advinda da luz.

Se alguém houvesse esquecido, o filme lembraria com bastante força todas essas mensagens, apesar da intenção original de Sigel e Shuster ter sido a associação com Moisés, haja vista ambos serem judeus, mas ok, isso é praticamente outro assunto. Vale lembrar que essa associação com a figura do messias cristão é algo relativamente novo na mitologia do personagem.

Em polaridades opostas, Superman e Zod lutam por motivos acima de ambos, de um lado o herói quer evitar que seu mundo adotivo se torne um amontoado de cinzas, Zod, após o fim de sua última chance de erguer um novo Krypton na Terra, passa a lutar com a fúria e a determinação de quem não tem mais nada a perder.

O que se segue é o combate de super-seres definitivo nos escombros de uma Metrópolis que se tornou o epicentro de um processo de terraformação, motivo suficiente para uma cidade se evacuada às pressas, como se já não fosse motivo suficiente para evacuação uma nave alienígena orbitando sua casa, convenhamos.

Confesso, em alguns momentos me surpreendi empolgadíssimo com o que estava acontecendo ali entre aqueles dois personagens fictícios… passei boa parte da minha infância imaginando como e quando seria possível fazer algo daquele nível, porque voar ao contrário do sentido de rotação da Terra e voltar no tempo é fácil, escroto mesmo é você voar entre prédios e socar um krypotoniano furioso enquanto ele tenta socar você de volta.

Os parágrafo abaixo contém SPOILERS sobre o desfecho do filme.

A despeito do polêmico final do combate em que Zod vira baixa de guerra, achei dentro do contexto do filme, não foi uma morte para evitar que uma família de desavisados fosse queimada pela visão de calor de Zod, foi uma morte para evitar que um super-ser alienígena superasse outro super-ser em combate e ficasse à solta em nosso planeta. Zod dominou seus poderes em uma questão de aproximadamente 24 horas, enquanto Kal-El levou 33 anos.

Obviamente dois pontos nessa questão são de fundamental importância, o primeiro deles é o que isso implica na construção do Superman, é esse fato se torna a mola mestra para impulsionar o Superman lá de AC1 a se tornar o mito, o símbolo e a representação máxima do herói altruísta e que preza a vida, qualquer vida, é o assassinato de Zod que o guia para o caminho de elevação e de superação de seus impulsos mais selvagens e de dominação. O que impede Kal-El de ser como Zod é o peso dessa escolha, afinal de tudo.

Vale avivar a memória de alguns que há momentos marcantes das Hqs em que o Superman precisa matar Zod em ocasiões extremas, por tanto, isso não é mérito ou invenção do filme de Snyder, é inclusive algo marcado no cânone do personagem e de sua mitologia.

Fim dos Spoilers

No que diz respeito à destruição de Metrópolis, é necessário, é o fato que abre as portas para a investida pesada da Lexcorp. Cidade destruída, é hora de aproveitar a oportunidade de se firmar como grande empreiteiro e bem-feitor de um lado e grande ativista contra a presença do Superman em nosso mundo no outro extremo. O filme deixa as brechas e isso é visível nos extras presentas ao logo de sua duração.

No final das contas achei um filme adaptado de Hq ótimo, acima da média que vem sendo feito nesse filão, como nova franquia, esteticamente percebe-se um elo com a trilogia Batman de Christopher Nolan, não à toa, produtor deste “Homem de Aço”, mesmo que isso não implique o mesmo espaço cronológico até agora.

O uniforme pós-reboot é a influência para a nova versão cinematográfica
O uniforme pós-reboot é a influência para a nova versão cinematográfica

Como disse lá no começo do texto, é um filme com boas escolhas estéticas e narrativas, tem sua carga dramática e emotiva, tem ação pesada e frenética, faz alterações ora necessárias, ora dispensáveis, não é perfeito, porém o simples fato de buscar uma forma narrativa levemente diferente já o tira do lugar comum.

Cheio de homenagens e momentos inspirados em muitas das histórias e fases canônicas do Superman, “Homem de Aço” é um filme para aqueles que entendem bem a função de um super-homem como figura simbólica já construída e de base arquetípica, mas acima de tudo é um filme para aqueles que querem ver esse mito ser erguido passo a passo e não de um pulo só.

É um filme que reconta a origem com concessões autorais, mas o faz também respeitando estruturas arraigadas no próprio personagem que por vezes os fãs, em sua cegueira acabam negligenciando e a primeira delas é o fato de que o Superman se constrói no caminho que traça para si ao logo do voo cultural.

Deem tempo ao Superman do século XXI para que ele primeiro se desconstrua e, em seguida, se construa na direção do mito e do símbolo que queremos. Não é possível simplesmente pegar tudo que o personagem é e se tronou e despejar no primeiro filme de uma nova era.

Parabenizo os que ousaram fazer esta nova abordagem rompendo assim a zona de conforto estabelecida por Richar Donner e Christopher Reeve, pois estes marcaram seu lugar ao Sol e qualquer tentativa de imitação acaba sendo rechaçada como aconteceu com “Superman: O Retorno” dirigido por Bryan Singer. Ou se fazia diferente ou então se estacionaria mais uma vez à sombra do icônico da década de 70 e não haveria mais uma vez lugar ao Sol para nos juntarmos a Kal-El.

A falta de ação foi a grande crítica contra o filme de Singer, contra Snyder é o excesso dela? Contra Singer a crítica bate pesada por ser um Superman clássico demais e contra Snyder por ser um Superman moderno demais? Oras, decidam-se.

“Homem de Aço” é um filme marcado pela velocidade do século XXI, dialoga e negocia com seu Zeitgeist perfeitamente, e me indago: nós aceitaríamos menos do que isso? Aceitaríamos o Superman salvando aviões de cair em áreas urbanas? Prednedo assaltantes em telhados? Ou simplesmente girando no sentido contrário ao de rotação da Terra para fazer o tempo retroceder? Duvido muito.

O herói não se faz no começo de sua jornada nem ao término dela, ele se faz no fluxo dela. E que venham os próximos voos, eu aguardo ansioso como, anos atrás. Aguardei por um certo Cavaleiro das Trevas.

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  • Direção: Zack Snyder
  • Produção: Christopher Nolan
  • Roteiro: David S. Goyer

Elenco:

  • Henry Cavill como Kal-El / Clark Kent / Superman
  • Amy Adams como Lois Lane
  • Michael Shannon como General Zod
  • Antje Traue como Faora
  • Russell Crowe como Jor-El
  • Ayelet Zurer como Lara Lor-Van
  • Laurence Fishburne como Perry White
  • Kevin Costner e Diane Lane como Jonathan e Martha Kent

Este texto é parte do nosso especial de 75 anos do Superman, confira a primeira parte no link abaixo:

2013, o ano do Homem de Aço

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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.

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